Covid-19: África já vê "luz ao fundo do túnel"
27 de março de 2022Quando Nomalanga Dlamini pensa no que foi o início da pandemia provocada pelo coronavírus na África do Sul, as memórias não são boas: "Em 2020 estava tudo em pânico, não tínhamos confiança nas pessoas que nos rodeavam, havia medo, sofríamos de ansiedade e estávamos isolados", lembra esta residente de Joanesburgo.
Dois anos passados, acrescenta, a realidade é completamente diferente. O pânico acabou: "a situação mudou, sentimo-nos mais relaxados, o medo parece estar a ir embora, estamos a começar a viver novamente".
Mas como é hoje a vida na capital económica da África do Sul? "Muitas pessoas perderam os seus postos de trabalho, a economia caiu, mas o mundo do trabalho está agora a abrir-se novamente", nota Nomalanga Dlamini.
Nontsikelelo Vuke é rececionista num escritório governamental no centro da cidade e diz-se também satisfeito com as perspetivas de melhorias na situação económica do país. "Estou feliz e mais relaxada, porque fui vacinada. Muita gente levou a vacina e muito bem, eu estou à vontade".
Economia a crescer
Com a propagação da variante Ómicron, muitos países africanos viram o número de casos da doença aumentar exponencialmente nos últimos meses. Segundo dados da UNICEF, em meados de março, a Tunísia, a África do Sul, o Egito e o Zimbabué registaram recordes no número diário de novas infeções.
A África do Sul é um dos países que mais tem sofrido desde o início da pandemia. O número total de pessoas infetadas é de longe o mais elevado do continente, com 3,7 milhões de casos registados.
Contudo, como muitas outras economias emergentes, a África do Sul tem vindo a aliviar as restrições relacionadas com a Covid-19, uma vez que, à semelhança do que se passa na maioria dos países africanos, também aqui a variante Ómicron levou à hospitalização de muito menos pessoas. Também a taxa de mortalidade, diz o economista Sanisha Packirisamy, é bem mais baixa.
Segundo o analista, em 2021, a economia cresceu 4,9 por cento - graças a um pacote de assistência financeira lançado pelo governo para as famílias mais pobres. "Esperamos que o crescimento abrande para menos de dois por cento em 2022, uma vez que uma inflação global mais elevada reduz a procura de produtos sul-africanos, as condições fiscais são mais apertadas localmente e o desemprego é elevado", diz à DW.
Em declarações, esta semana, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, fez saber que o país perdeu cerca de dois milhões de postos de trabalho devido à pandemia.
Também o economista sul-africano Daniel Silke vê o elevado desemprego como um grande problema para o país: "cerca de 45% dos sul-africanos estão desempregados, o que coloca uma pressão extrema sobre o governo para reanimar a economia, especialmente com as eleições gerais de 2024 a aproximarem-se", afirma.
Já antes da pandemia, a elevada corrupção em instituições estatais havia enfraquecido a economia nacional. Se o governo não for capaz de introduzir reformas estruturais e assim eliminar a pobreza e a desigualdade nos próximos anos, a maioria do partido Congresso Nacional Africano (ANC), no poder, poderá estar ameaçada, considera o especialista.
O aumento das taxas de vacinação irá também ajudar setores importantes: "A indústria do turismo, em particular, continua a ser um mercado de crescimento e emprego no país", diz Packirisamy, alertando, no entanto, que os números não excederão o nível pré-pandémico.
Neste setor, continua o economista, o governo deve concentrar os seus esforços na melhoria das infra-estruturas e na eliminação da elevada taxa de criminalidade, para que se mantenha um atrativo destinno turístico.
Turismo no Quénia
No Quénia, e após a grave vaga de infeções provocada pela variante Ómicron em dezembro, a economia começa também a dar sinais de recuperação. De acordo com Monika Solanki, dona de uma agência de viagens no país, a retoma já se faz sentir. "O turismo é um setor económico importante no Quénia e a pandemia atingiu o setor de forma muito dura".
Agora, a situação está mais calma. "Quase não há casos e o governo aliviou as restrições à entrada", nota.
Luz ao fundo do túnel
A Organização Mundial de Saúde (OMS) acredita que África pode controlar a pandemia este ano se as tendências atuais se mantiverem. No entanto,adverte que a vigilância constante é crucial.
Como lembrou, recentemente, Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para África, a pandemia provocada pela Covid-19 saiu cara ao continente. Para além do abalo nas economias nacionais, morreram em África, vítimas da doença, mais de 250 mil pessoas. E cerca de 40 milhões, estima Banco Mundial, mergulharam numa situação de pobreza extrema.
"A Covid-19 estará connosco durante muito tempo, mas há uma luz ao fundo do túnel. Este ano podemos acabar com a devastação deixada pelo vírus e retomar o controlo das nossas vidas", disse Moeti numa conferência de imprensa.
Nomalanga Dlamini está também otimista. "Temos esperança que a Covid desapareça em 2022. Sentimos - por causa da imunidade de grupo - uma sensação de serenidade".