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Divisões à flor da pele no congresso do ANC

Subry Govender (Joanesburgo) | tm
4 de julho de 2017

O partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano, está dividido depois de o Presidente Jacob Zuma enfrentar acusações de corrupção. E muitos sul-africanos deixaram de confiar no ANC.

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Presidente sul-africano, Jacob ZumaFoto: Getty Images/AFP/R. Jantilal

A conferência do Congresso Nacional Africano (ANC) – que começou na sexta-feira (30.06) e termina esta quarta-feira – ocorre numa altura conturbada. A imagem do partido no poder deteriorou-se após vários escândalos de corrupção em que o Presidente Jacob Zuma foi envolvido, numa altura em que a África do Sul atravessa uma recessão e o desemprego aumenta.

O ANC espera, por isso, delinear estratégias para voltar a ganhar a confiança do eleitorado, promovendo um clima de unidade e reformas socioeconómicas. Mas, poucos dias depois de começar a conferência em Joanesburgo, as fissuras no partido tornaram-se evidentes, com fações distintas a apoiar diversos líderes à sucessão de Jacob Zuma, que deverá deixar a liderança do ANC em dezembro.

Südafrika Cyril Ramaphosa in Johannesburg
Vice-presidente sul-africano, Cyril RamaphosaFoto: picture-alliance/Photoshot

Divisões profundas

Quando o ANC, um dos mais antigos movimentos de libertação africanos, chegou ao poder em 1994 sob a liderança de Nelson Mandela, prometeu uma vida melhor para todos os sul-africanos. Mas, 23 anos depois, muitos cidadãos deixaram de confiar no partido, profundamente dividido.

O sectarismo tomou conta da conferência do ANC, em que participam quase 4.000 delegados. Numa gravação obtida pelos meios de comunicação social sul-africanos, é possível ouvir vários delegados a entoar canções a favor do vice-presidente Cyril Ramaphosa. Do outro lado da sala, outro grupo clama pela sua favorita, a ex-presidente da Comissão da União Africana e ex-mulher de Jacob Zuma, Nkosazana Dlamini-Zuma.

Para superar esta desunião e regenerar a imagem do partido entre os sul-africanos, propôs-se a criação de um Conselho Eleitoral Revolucionário para interrogar os candidatos antes de serem selecionados para cargos de liderança.

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Ex-presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-ZumaFoto: picture-alliance/Photoshot/P. Siwei

O ANC "tem o poder" de mudar o atual clima de fracionismo, comentou o ministro da Polícia, Fikile Mbalula, à margem da conferência. "Por isso estamos a fazer propostas firmes para responder a estes desafios", acrescentou.

Analistas políticos observam, no entanto, que a proposta para criar um Conselho Revolucionário demonstra que o ANC enfrenta sérios problemas sob a liderança de Zuma.

O partido está numa espiral decrescente, afirma o especialista Dumisani Hlophe, que considera que o sectarismo está a prejudicar a governação: "O centro do ANC não aguenta", comenta.

O analista Angelo Fick apela ao ANC que responda às preocupações expressadas pelos veteranos do partido, organizações religiosas, organizações não-governamentais e pelos seus parceiros, incluindo o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos e o Partido Comunista Sul-Africano.

O ANC não deveria chegar "a uma situação de triagem, como na medicina, quando já se está numa fase muito adiantada e se salva apenas o que é possível salvar", alerta Fick.

Divisões à flor da pele no congresso do ANC

Pobreza e desemprego

Nas ruas, os sul-africanos acompanham atentamente a conferência do ANC. Os cidadãos dizem que o partido, para além das questões de liderança, deve encontrar soluções para combater a pobreza, a crescente taxa de desemprego e a desigualdade social.

O ANC deveria "voltar a ser o partido em que as pessoas votaram há tantos anos atrás", diz Mbali Nyando, que lamenta que, depois de mais de duas décadas de democracia, as condições de vida das pessoas, dos negros em particular, "estejam a piorar em vez de melhorar".

Bheki Khumalo disse à DW que o ANC tem de se focar no combate ao desemprego, "o principal problema, especialmente entre os negros. As pessoas estão desempregadas, com fome, perderam a esperança. O ANC tem de melhorar a sua política económica com os empresários."

Moção de censura em breve

O Presidente Zuma e outros líderes que participaram na conferência declararam que a rápida transformação económica e a redistribuição da terra sem compensação irão ajudar o ANC e o Governo a superarem os problemas socioeconómicos enfrentados pela maioria dos sul-africanos negros.

A 8 de agosto, o Parlamento vota uma moção de censura ao Presidente Zuma. A oposição apresentou a moção na sequência de uma polémica remodelação ministerial em março, em que o Presidente nomeou uma dezena de aliados para cargos governamentais.