Ativistas apresentam proposta de coligação para vencer MPLA
14 de março de 2017"Este é o momento para os partidos unirem esforços e sinergias", diz Nuno Dala.
O membro do grupo dos 15+2 ativistas condenados há um ano por atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, diz que, sozinhos, os partidos da oposição não têm hipóteses contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) nas eleições marcadas para agosto.
Dala e outros ativistas gostariam de pôr fim à governação do MPLA, no poder desde a independência do país. Por isso, apresentaram, esta terça-feira (14.03.), uma "Proposta de Constituição de Coligação dos Partidos Políticos". Lançaram também uma petição online e em papel para "deixar claro" que a vontade de criar uma coligação "não vem apenas de 17 ativistas, mas de muitos outros cidadãos."
DW África: Porquê esta proposta de coligação agora?
Nuno Dala (ND): O momento para os partidos unirem esforços e sinergias é mesmo este. Não há hipótese de qualquer partido na oposição conseguir resultados melhores dos que têm sido habituais se não houver uma coligação, principalmente das forças ou partidos políticos com maior expressão ao nível de Angola.
DW África: Por exemplo, a UNITA ou a CASA-CE. Mas a questão que se coloca é se os partidos vão ouvir este pedido. Há hipóteses dessa coligação ir em frente tendo em conta que, por exemplo, tanto a UNITA, como a CASA-CE não mostram vontade para criar uma coligação, pelo menos antes das eleições?
ND: Independentemente de qualquer resposta dos partidos na oposição, sobretudo dos de maior expressão, estamos a organizar esta iniciativa entendendo que é nosso dever, enquanto cidadãos e sobretudo ativistas interessados na alteração do quadro político em Angola, contribuirmos com propostas que sejam viáveis e, ao mesmo tempo, baseadas na realidade local. Agora, na verdade, já submetemos a proposta a 20 de fevereiro. Alguns responderam e estamos à espera que os outros partidos respondam.
DW África: E como seria possível essa coligação antes das eleições?
ND: O primeiro passo seria a concertação entre os próprios partidos. Depois da concertação, seriam feitos os necessários acertos em relação por exemplo à sigla, à bandeira... além de contar com as propostas e sugestões da sociedade civil. Portanto, seria possível mediante aquilo que tem sido já a prática política. Por exemplo, poucos meses antes das eleições de 2012, a CASA-CE conseguiu afirmar-se e eleger oito deputados. Portanto, é claro que há desafios, mas é possível fazer uma coligação, mesmo que alguns aleguem que não é, e que até oferecem a possibilidade de a coligação ser pós-eleitoral, o que não faria muito sentido porque seria uma coligação que estaria limitada a fazer o seu trabalho no Parlamento.
DW África: Agora não é demasiado em cima da hora para fazer uma coligação de partidos políticos antes das eleições?
ND: Não acredito que seja demasiado em cima da hora. É claro que seis meses é pouco tempo. Não podemos deixar de admitir isso, só que entendemos que é possível. Se fosse realmente impossível, se de acordo com a história eleitoral de Angola fosse mesmo impossível, não estaríamos aqui com essa iniciativa. O que entendemos é que, juntos e com vontade, consegue-se realizar muita coisa.
DW África: Disse que já contactou os partidos. Que partidos contactou e que respostas obteve?
ND: Contactámos os partidos há um mês, nomeadamente o PDP-ANA, o Bloco Democrático, o PRS, a CASA-CE e a UNITA. Desses cinco partidos, que são aqueles que reúnem alguma estabilidade, obtivemos respostas positivas de dois partidos, nomeadamente o Bloco Democrático e o PDP-ANA, que receberam a proposta com boas mãos e que estão à espera que os outros partidos reajam. Permita-me também dizer que, se a iniciativa não resultar, nós, enquanto ativistas, teremos de facto cumprido com uma responsabilidade, tendo proposto alguma coisa em vez de ficarmos apenas parados a olhar.
DW África: O Nuno Dala pensa ingressar na vida partidária, e outros ativistas do grupo dos 17?
ND: Está fora de questão. Entendemos que a melhor forma de contribuirmos para um país melhor, por uma Angola melhor, é continuarmos no ativismo. Mas, sempre que entendemos que podemos dar a nossa mão aos partidos, daremos, como estamos a fazer agora.