20 anos de independência da Eritreia
22 de julho de 2013Quase todas as mesas do café "Sweet Asmara" estão ocupadas. Sobretudo homens apreciam um chá com muito, muito açúcar ou um cappuccino. Durante mais de 50 anos a Eritreia foi uma colónia italiana - a 1 de Janeiro de 1890, a Eritreia tornou-se oficialmente uma colónia da Itália e mais tarde, em 1936, província da África Oriental Italiana, junto com a Etiópia e a Somália Italiana – e isso deixou marcas. Não apenas arquitetónicas, embora os visitantes da capital da Eritreia acreditem ter aterrado em Florença ou Veneza.
Em quase todos os cafés de Asmara existe uma máquina de café e os empregados, como Sarah, sabem usá-la. "Para os eritreus o café ou cappuccino é parte da sua cultura e por isso é que o continuamos a fazer", diz. Também Pizza e Pasta se podem encontrar no menu deste café.
O legado italiano parece ter marcado o país, mas mais importante para esta pequena nação no Corno de África foi a época em que integraram a Etiópia. Depois da Segunda Guerra Mundial as Nações Unidas decidiram, em 1951, anexar a Eritreia à Etiópia. Seguiu-se uma guerra pela independência que se prolongou durante 30 anos.
Ver para não esquecer
No Instituto Audiovisual de Asmara, nos arredores da capital, passa um documentário, um dos muitos que mostram a luta da Frente pela Libertação do Povo Eritreu (FLPE). O diretor do instituto, Mesgun Zerai, participou nos combates. "Eu posso ser um artista, mas o meu passo mais importante foi quando me juntei à Frente. Era uma guerra muito convencional. Escavamos trincheiras. Comparados com os nossos inimigos éramos uma pequena guerrilha e não tínhamos armas tão potentes como as do inimigo".
O homem alto e calvo tem uma história de vida movimentada, antes de ser guerrilheiro foi desportista. "É uma história longa. Eu joguei futebol na primeira divisão em 1971/72. Agora sou um homem velho". A carreira futebolística acabou com a guerra.
Pouco após o início da guerra, Mesgun Zerai foi ferido num braço e no hospital descobriu novos talentos. Foi lá que escreveu o seu primeiro poema. Entretanto escreveu peças de teatro e guiões. Não há ninguém na Eritreia que não conheça o filme "A Mãe", um melodrama sobre uma mulher valente.
Fim da guerra e independência
A guerra civil da Etiópia acabou em 1991 com uma vitória dos movimentos de oposição ao regime do "Gerg". Entre eles a FLPE (Frente pela Libertação do Povo Eritreu) da Eritreia. Dois anos mais tarde, a 24 de Maio de 1994, na sequência de um referendo, o país foi declarado independente.
À independência seguiu-se um conflito sangrento com a Etiópia, de 1998 até 2000, que vitimou milhares de pessoas e que terminou com um acordo. "Estamos quase em paz com a Etiópia. O problema foi a definição das fronteiras, mas situação escalou de tal forma que foi verdadeiramente trágico. A amizade entre os dois países depois da guerra da independência foi exemplar para outros países africanos", recorda Mesgun Zerai. Mas debaixo da superfície o vulcão tremia, exatamente como hoje. A fronteira ainda é controversa e por isso Mesgun Zerai quer lembrar às pessoas os horrores da guerra: "Faz parte da história do nosso país e nós somos obrigados a escrever sobre isso. Quando nós não lembramos o que as pessoas sofreram com a guerra então a sua dor cai no esquecimento".
"Coreia do Norte" no continente africano
A imagem da Eritreia no estrangeiro mudou com os anos. No início a luta de "David contra Golias" mereceu-lhe muitas simpatias. Depois esperou-se que o jovem Estado se organizasse.
Entretanto muitos vêm a Eritreia como a "Coreia do Norte" do continente africano. O presidente, Isaias Afewerki, lidera o país há 20 vinte anos de forma ininterrupta. Aos cidadãos exige-se a máxima obediência. Todos os jovens são mobilizados para o serviço militar, que pode durar indefinidamente.
A organização "Repórteres sem Fronteiras" aponta regularmente a Eritreia como o país com menos liberdade de imprensa em todo o mundo. Uma e outra vez, há relatos de tortura nas prisões.
Isolamento cada vez mais forte
O partido no poder, que teve na sua génese a Frente pela Libertação do Povo Eritreu, respondeu a todas as críticas até agora principalmente com ainda um ainda mais forte de isolamento. É um bom sinal quando um dos homens mais importantes do país está pronto para uma conversa? O assessor presidencial Yemane Ghebreab é tido como um dos pensadores do partido. Um homem de sorriso amigável com olhos cépticos. "Uma coisa que aprendemos é que 20 anos é pouco tempo para a construção de uma nação".
Outros países africanos que já há meio século são independentes "têm grandes vantagens em relação a Eritreia", diz. "Perdemos duas gerações que não tiveram uma educação adequada. As infra-estruturas do país foram destruídas. Mas também há um lado positivo para a guerra. Ela uniu as pessoas".
O inimigo Etiópia uniu cinco milhões de eritreus. O governo invoca a ameaça representada pelos vizinhos para estabelecer o serviço militar obrigatório e outras medidas rigorosas. As relações diplomáticas entre os países vizinhos estão congeladas, confirma o conselheiro presidencial Yemane Ghebreab: "Não, não, não há negociações. Os etíopes continuam a ocupar território eritreu. Eles violam as leis internacionais e ignoram a resolução do Conselho de Segurança da ONU. Mas se a Etiópia se retirar, podemos no dia retomar relações normais".
Tentativa de golpe
O conselheiro presidencial é um homem que escolhe bem as palavras. Em Janeiro houve relatos de uma tentativa de golpe. Os tanques rolaram nas ruas da capital. O governo conseguiu manter no segredo dos deuses que exatamente aconteceu.
Mas, Yemane Ghebreab não contesta que o golpe ocorreu. "Acho que os eventos de Janeiro têm significado em vários aspectos. É importante realçar que foi a primeira vez em muito, muito tempo que algo assim aconteceu - apesar de vivermos em África, onde há sempre crises e conflitos. Em segundo lugar, foi um incidente isolado e tudo foi resolvido rapidamente. Não foi disparado um tiro e não houve derramamento de sangue."
Alguns funcionários do governo terão sido presos, mas não existem declarações oficiais acerca disso. O conselheiro presidencial diz que a tentativa de golpe levou o governo a repensar determinados aspectos da sua política. Por exemplo, o serviço militar, ao qual anualmente milhares de jovens tentam escapar fugindo do país. "Precisamos de comunicar melhor com a nossa população", é o balanço de Yemane Ghebreab.