2014, um ano dramático para África
25 de dezembro de 2014A épidemia do ébola na África Ocidental
Em março de 2014, são conhecidos os primeiros casos de ébola na Guiné-Conacri. Rapidamente, o vírus se espalha para os países vizinhos, Libéria e Serra Leoa.
Mais tarde, outros países da África, da Europa e dos Estados Unidos relatam casos isolados.
Em setembro, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declara numa sessão especial do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, se tratar do maior surto de ébola que o mundo já viu.
"O número de casos está dobrando a cada três semanas. Em breve, haverá mais casos na Libéria do que nas quatro décadas da história da doença. Esta situação sem precedentes requer ações sem precedentes para salvar vidas e garantir a segurança da paz," diz.
É, então, estabelecida a Missão das Nações Unidas para a Resposta de Emergência ao Ébola (UNMEER, na sigla em inglês), com cinco prioridades: parar o surto, tratar os infectados, garantir serviços essenciais, preservar a estabilidade e prevenir novos surtos.
Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde contabiliza mais de 19.300 casos de ébola, mais de 7.500 pessoas morreram, vítimas da doença. Enquanto na Europa, os infectados são tratados em clínicas especializadas, a África Ocidental luta por voluntários, estações de isolamento e médicos.
As consequências do ébola são devastadoras: inúmeras crianças ficam órfãs, outras doenças - como a malária ou a febre tifóide - permanecem sem tratamento, a economia da Libéria, da Serra Leoa e da Guiné-Conacri vai ao chão. As pessoas colocam suas esperanças numa vacina que, no entanto, ainda se encontra em fase de testes.
Sudão do Sul: guerra civil no Estado mais jovem do mundo
No início deste ano, novos combates eclodem no país mais jovem do mundo, o Sudão do Sul. O Presidente Salva Kiir acusa seu ex-vice-presidente, Riek Machar, de uma tentativa de golpe.
Qualquer tentativa de alcançar um cessar-fogo nas negociações é abalada por novos combates, o que irrita Edmond Mulet, responsável pelas missões de paz das Nações Unidas.
"Depois de três anos de independência, o Sudão do Sul está agora à beira de uma catástrofe humanitária e um prolongado conflito interno," afirma Mulet. "Esta é uma crise provocada pelo homem," acusa o diplomata.
Nigéria: a violência do Boko Haram - as estudantes de Chibok
A 16 de abril, o grupo terrorista radical islamista Boko Haram sequestra mais de 200 alunas da cidade de Chibok, no norte da Nigéria.
"Tenho duas filhas e elas estavam prestes a terminar a escola. A notícia do rapto delas foi um choque para mim. Eu até tinha vendido meu pedaço de terra para que elas pudessem ir à escola," relata o pai de duas das meninas sequestradas.
Em reação ao sequestro, é criada a campanha internacional nas redes sociais #BringBackOurGirls, (ou "Tragam de Volta Nossas Garotas," em português). Meses depois, muitos nigerianos estão indignados, pois o Governo permanece incapaz de solucionar o caso, embora o paradeiro das meninas seja supostamente conhecido. As negociações com os rebeldes não levam a nenhum resultado.
Os ataques do Boko Haram são cada vez mais frequentes, totalizando milhares de vítimas em 2014. Em dezembro, cidades importantes do norte da Nigéria, como Gwoza, estão nas mãos do grupo terrorista. O Presidente Goodluck Jonathan quer estender o estado de emergência nas províncias do nordeste. Em meio ao debate, Jonathan anuncia que irá se recandidatar nas eleições de 2015.
República Centro-Africana: difícil recomeço
Após massacres, em Dezembro de 2013, o ano novo na República Centro-Africana começa com um vislumbre de esperança: a Presidente de transição, Catherine Samba-Panza, eleva o líder rebelde Michel Djotodia ao topo do país. Em entrevista à DW, Samba Panza diz em outubro que, como os bombeiros, foi instalada no posto mais alto de seu país numa situação de emergência.
"Os centro-africanos colocaram muita esperança em mim e não posso decepcioná-los. Vou fazer de tudo para garantir a paz, a segurança e especialmente o desenvolvimento, porque esta crise é, em primeira linha, uma crise de desenvolvimento e de pobreza," declara.
No entanto, seus apelos às partes em confronto não são ouvidos. Com muita dificuldade, os cerca de nove mil soldados da União Europeia, da União Africana e das Nações Unidas, conseguem controlar os combatentes rebeldes Séléka e anti-balaca.
África do Sul: 20 anos depois do Apartheid
20 anos após as primeiras eleições livres, a democracia está em crise na África do Sul. O Presidente Jacob Zuma enfrenta fortes críticas da oposição. Numa sessão parlamentar em novembro, Ngwanamakwetle Mashabela, do partido da oposição Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), ataca o Presidente Zuma.
"O presidente do ANC é um ladrão! Um criminoso," acusou Mashabela.
Zuma recebe críticas também de seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês). Ele é acusado de enriquecimento às custas do Estado, falta de cultura de liderança e abuso de poder. Muitos sul-africanos estão decepcionados com o ANC. O desemprego entre os jovens é alto, os dados econômicos são ruins.
Recorde mundial: Dennis Kimetto Kipruto vence a Maratona de Berlim
A 28 de setembro, o queniano Dennis Kimetto completa a Maratona de Berlim em duas horas, dois minutos e 57 segundos, um recorde mundial.
"Estou me sentindo bem porque bati o recorde mundial. Estou realmente feliz," declara o queniano após a conquista.
O atleta de 30 anos de idade ainda é considerado um novato entre os corredores de rua, mas já angaria um prêmio após o outro. "Eu me sinto bem em Berlim," disse Kimetto antes da corrida.
Mali: acordo novamente adiado
Com a eleição presidencial em setembro de 2013, a recente guerra civil no Mali deveria ter sido definitivamente ultrapasssada. Mas as tensões persistem. Em maio de 2014, os rebeldes tuaregues conquistaram a cidade de Kidal, no norte do país. Eles consideram justa a sua exigência de um grande Estado autônomo na região de Azawad. Uma proposta que o ministro maliano dos Negócios Estrangeiros, Abdoulaye Diop, garante, não está na agenda do Governo.
"É importante que as negociações se voltem novamente para o que temos oferecido. Estamos dispostos a reformar o governo de modo que a auto-administração das comunidades locais será reforçada. Mas deve ocorrer no âmbito de um Estado unitário," esclarece o ministro.
Em novembro, falhou a terceira ronda de negociações entre os rebeldes e o Governo do Mali, realizada no vizinho Burkina Faso.
Burkina Faso: mudança na "terra dos justos"
A tentativa de uma emenda constitucional, em outubro, foi a ruína de Blaise Compaoré, que por longo tempo foi o Presidente do Burkina Faso. A população não queria que ele pudesse se recandidatar para mais um mandato e foi às ruas em protesto.
"Este Presidente persegue apenas os seus próprios interesses, ele não faz nada para nós. Temos tantos problemas aqui, o nosso país é paupérrimo e o Governo não tinha nada melhor para fazer do que perpetuar o poder do Presidente," declarou um dos manifestantes.
Na sequência dos protestos de novembro, após 27 anos no poder, Compaoré foge para a Costa do Marfim. Os militares assumem o poder e instalam um Governo de transição no país, que deve preparar eleições no prazo de um ano.
Denis Mukwege galardoado com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu
Suas descrições agitaram os membros da União Europeia (UE): o médico Denis Mukwege contou ao Parlamento da UE sobre seu trabalho diário no hospital Panzi, na cidade congolesa de Bukavu.
"Como posso ficar em silêncio, quando sei que esses crimes contra a humanidade são planejados com as razões económicas mais desprezíveis? Como posso ficar em silêncio, quando essas mesmas razões económicas levaram ao uso do estupro como uma estratégia de guerra?" perguntava-se o congolês em seu discurso.
"Em cada mulher violada, vejo minha esposa. Em cada mãe estuprada, vejo a minha mãe, e em cada criança estuprada, vejo as minhas crianças," continuou e finalmente, colocou a pergunta aos diplomatas da UE: "Como podemos ficar em silêncio?"
Em Bukavu, Mukwege tratava mulheres que foram violadas e mutiladas na guerra civil. Por este trabalho, o Parlamento Europeu atribuiu a ele o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, em novembro.
Quénia: Tribunal Penal Internacional arquiva processo contra o Presidente Kenyatta
Depois de mais de dois anos, o Tribunal Penal Internacional (TPI), arquiva o processo contra o Presidente queniano Uhuru Kenyatta, em dezembro. A promotora-chefe retira as acusações de crimes contra a humanidade que pesavam contra Kenyatta. O motivo: provas insuficientes. A ministra queniana dos Negócios Estrangeiros, Amina Mohamed, saúda a decisão.
"Hoje em Haia, o procurador rejeitou as acusações contra Sua Excelência, o Presidente," declarou a ministra.
Kenyatta poderia ter sido responsabilizado por cumplicidade em violação, expulsão e assassinato, após as eleições de 2007 no Quénia.
Fatou Bensouda, procuradora-chefe do Tribunal Penal Internacional está decepcionada.
"Este é um momento doloroso para os homens, mulheres e crianças que sofreram tremendamente com os horrores da violência pós-eleitoral e que esperaram pacientemente por quase sete anos para ver a justiça ser feita," lamentou.
Al-Shabaab perpetra ataques na Somália e no Quênia
Atentados suicida da milícia somali Al-Shabaab são cada vez mais frequentes no país vizinho, o Quénia.
Em 22 de novembro, o porta-voz da polícia do Quénia, David Kimaiyo, informava: "no início desta manhã, um ônibus que seguia de Mandera para Nairobi foi atacado por um desconhecido número de bandidos e podemos confirmar que o ataque resultou na morte de 28 pessoas."
Só em 2014, cerca de 200 pessoas foram mortas no Quénia em mais de 25 atentados. Alvos da Al-Shabaab foram civis, turistas, não-muçulmanos. Há anos, a Al-Shabaab luta contra o Governo central na capital somali, Mogadíscio. Tropas quenianas fazem parte da missão de paz africana na Somália.