50 anos: Heróis da luta "esquecidos" na Guiné-Bissau
20 de setembro de 2023A Guiné-Bissau está prestes a celebrar o quinquagésimo aniversário da sua independência, proclamada unilateralmente a 24 de setembro de 1973. Cinquenta anos passados, alguns dos homens que dedicaram as suas vidas à concretização do sonho de Amílcar Cabral de uma Guiné-Bissau independente e desenvolvida enfrentam agora condições de vida difíceis e queixam-se da falta de tratamento adequado por parte dos sucessivos Governos.
Em entrevista à DW, estes heróis da independência partilham as suas vidas e lutas na primeira pessoa. Manuel Sequeira, com 74 anos, é um deles. Ao microfone da DW, descreve a "difícil situação" em que muitos combatentes da liberdade vivem.
Após 11 anos de luta, diz, as pensões modestas que recebem são injustas.
"Neste momento, um antigo combatente do último escalão recebe 40 mil Francos CFA (um pouco mais de 60 euros). Uma pessoa que perdeu braço e perna a receber isto, não pode ser", diz.
Sequeira expressa ainda descontentamento com os governantes que, "não tendo participado na luta", não dão atenção aos antigos combatentes.
"Os nossos governantes são todos corruptos e quando vão para o Governo não discutem nada no que toca aos antigos combatentes", afirma.
Segundo o mesmo ex-combatente, embora a Guiné-Bissau tenha alcançado a independência, o desenvolvimento continua a ser um desafio. Estradas de terra e falta de infraestrutura são testemunhos de que o país não alcançou todas as metas traçadas por Amílcar Cabral.
"Não atingimos a meta de Cabral"
"Hoje em dia, [a estrada] de Buba [no sul] para Bissau é terra batida e de Bissau para Quitáfine [no sul] também é terra batida. O Partido [PAIGC] cumpriu com o programa mínimo, que é a independência, e temos o nosso hino e símbolos nacionais. Mas quanto ao desenvolvimento é zero. Não atingimos a meta traçada por Amílcar Cabral", garante.
Ainda que nos discursos políticos, os antigos combatentes sejam frequentemente mencionados, eles sentem-se desprezados. Pouco foi feito por eles, além das casas sociais construídas há duas décadas que não acomodam todos os necessitados.
Agostinho Roberto Pereira, um dos deputados que proclamaram a independência, expressa a sua insatisfação com o incumprimento de promessas feitas após a independência, como pensões adequadas e outros privilégios para aqueles que proclamaram o Estado.
"Esta é uma ofensa, porque é um direito que temos. [Mas] não estou arrependido de ter participado na luta, embora tenha participado e não beneficiei de nada que pudesse resolver os problemas da minha família e dos meus filhos. Mas sei que cumpri a missão de honra de libertação da Pátria".
Apelo ao Governo
Aos 73 anos, Mamadu Camará, da defesa antiaérea, durante a luta de libertação nacional, ainda tem esperança na mudança da situação dos combatentes. Ao Governo apela que "melhore a situação dos antigos combatentes. Hoje, estamos a fazer só pelo esforço, tem família e crianças em casa".
Apesar dos desafios e da sensação de abandono, estes heróis da independência não se arrependem da sua luta. E esperam que o Governo melhore a sua situação.
Após a independência, foram realizados vários recenseamentos, mas o número oficial de antigos combatentes ainda não é amplamente conhecido.