Independentes mas não livres
25 de maio de 2018Meron Stefanos diz que na sua língua, o Tigrínia, "independência” também significa liberdade. A liberdade é um algo que não existe no seu país, afirma esta eritreia de 44 anos que vive na Suécia desde os doze. Mas que sempre manteve estreitos laços com o seu país natal.
Baseada em Estocolmo, "mamã Meron", como lhe chama por vezes a imprensa, presta assistência a refugiados eritreus: "Os filhos dos mártires que morreram pela independência estão espalhados pelo mundo fora e morrem no Mediterrâneo, morrem no Sinai, morrem no Sará. Sinto-me muito triste, porque não para isso que morreram os nossos mártires. Foi para parar a emigração, para ganharmos uma Eritreia democrática, para haver justiça no país".
A Eritreia ganhou a independência em 1993, após 20 anos de guerra contra a Etiópia, da qual era uma parte. Foi uma época de muito otimismo. O Governo prometeu paz e desenvolvimento e o mundo via o pequeno país no Corno de África como uma esperança para todo o continente. Eritreus na diáspora regressaram ao país com investimentos e conhecimentos. Os eritreus tinham fama de incorruptos, encorajando investimentos externos.
Violação dos direitos fundamentais
Mas depressa a situação mudou. A Eritreia sofreu uma derrota em novo conflito armado com a Etiópia em 1998. Cresce oposição ao governo do Presidente Isias Afewerki, que recorre à opressão para silenciar os críticos. Hoje há quem chame ao país a Coreia do Norte de África: nunca houve eleições, a imprensa não é livre, jornalistas e defensores dos direitos estrangeiros não entram no país.
Não obstante, muitos países, incluindo a Alemanha, tentam reforçar as relações com a Eritreia. Críticos dizem que isso serve apenas para legitimar uma ditadura.
Sheila Keetaruth, encarregada especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Eritreia também duvida que a política de normalização tenha resultados positivos para os eritreus: "Nos últimos três anos, alguns países apostaram no desenvolvimento das relações com a Eritreia, incluindo a normalização. Mas até agora não se constata nenhuma melhoria da situação dos direitos humanos."
A ganhar coragem
Pelo contrário, diz Keetaruth, a situação piorou. Um exemplo gritante é o serviço militar. Eritreus com mais de 18 anos têm que prestar este serviço por uma duração de tempo teoricamente ilimitada. Refugiados e defensores dos direitos humanos dizem que o serviço militar não passa de trabalhos forçados em empresas do Estado. E por isso o número de jovens que foge do país e muito elevado.
Resta saber se as coisas poderão mudar num futuro próximo. Há rumores que apontam para uma doença grave do Presidente Afewerki. Michaela Wrong, autora de um livro de referência sobre a Eritreia, diz que alguma mudança é inevitável. Mas não está muito otimista quanto ao teor da mesma: "A Eritreia é um Estado governado pelo exército. O Parlamento e os tribunais não têm poder real. Se o Presidente morrer ou passar à reforma, será substituído por oficiais mais jovens, que estão mais cientes da insatisfação sobretudo da população mais jovem. Mas não me parece que introduzam um Governo democrático. Penso ser mais provável que o poder passe das mãos de Afewerki para um dos seus generais".
Na Suécia, a ativista Meron Stefanos recusa o pessimismo: "Nós, eritreus, lutámos pela nossa independência. As pessoas vão continuar a lutar. Os eritreus estão a ganhar coragem”.