A insatisfação no Egipto está longe de acabar
27 de janeiro de 2011A onda de protestos no Egipto começou com apelos em blogs, no twitter e no facebook - todas formas de manifestação de opinião na Internet. Poucos dias depois, já havia milhares de manifestantes indignados nas ruas.
Como na Tunísia, país citado como exemplo por muitos manifestantes, os protestos no Egipto vêm da "geração facebook", ou seja, dos jovens. A juventude se sente socialmente desfavorecida e exige a queda do regime do presidente Hosni Mubarak que governa o país há três décadas.
Sangue em nome da reforma política
No Cairo e em outras cidades egípcias, mortes e prisões foram as consequências dos confrontos travados entre manifestantes e a polícia.
Tanto a Tunísia quanto o Egipto são considerados, na região, parceiros fiéis do ocidente, sobretudo dos Estados Unidos da América e da União Europeia. O Egipto, é um dos poucos países árabes que mantém relações diplomáticas com Israel. O presidente Mubarak é visto como a garantia de que os islamistas não conseguirão conquistar o poder político nas margens do Nilo.
Mas os últimos protestos provaram que a Irmandade islâmica não não é a única que se sente oprimida pelo regime. O jovem Mahmoud Adel el Hetta, relembra o comentário da Secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton: "Ela disse que o regime de Mubarak é estável; mas que não deve dispersar os manifestantes por meio da violência. Por isso, nós vamos continuar protestando pacificamente, até vencermos. A rua é nossa."
O regime do Egipto cai ou não cai?
Quanto ao regime no Egipto cair ou não, como aconteceu na Tunísia, ninguém pode fazer previsões seguras. Entre os dois países há uma grande diferença: Mubarak, pratica uma certa abertura. A Irmandade Muçulmana, por exemplo, é oficialmente proibida, mas na prática é tolerada.
As organizações de defesa dos direitos humanos queixam-se regularmente da repressão política e denunciam casos de tortura. Mas o Egipto dá aos cidadãos mais liberdade do que países como a Síria, Arábia Saudita ou - até há pouco - a Tunísia.
O professor de ciências políticas na Universidade de Erlangen-Nüremberg, Thomas Demmelhuber, é um especialista em política egípcia. Ele acredita que as recentes manifestações no Egipto têm uma dimensão histórica, sobretudo pelo grande número de participantes que envolveu. Porém, ele não acredita no fim do regime de Mubarak. Mais provável é que o presidente já não tente impor, como seu sucessor, o seu filho Gamal Mubarak: "Enquanto Mubarak for vivo, a continuidade estará assegurada. Mas quando ele desaparecer, podemos ter a certeza de que não será possível impor uma sucessão dinástica. Os manifestantes dos últimos dias - jovens entre 20 e 40 anos - sentem-se profundamente frustrados e sem perspetivas".
Autor: Hebatallah Ismail-Hafez / Carlos Martins / Bettina Riffel
Revisão: António Rocha