A juventude angolana valoriza pouco os seus heróis?
4 de fevereiro de 2021Sessenta anos depois, os jovens revelam cada vez menos conhecimentos sobre o 4 de fevereiro de 1961 - data do início da luta armada de libertação de Angola.
É o caso de António Francisco Jacob, residente em Luanda: "É o dia que, a bem dizer, que simboliza, a nossa bandeira nacional, sobre a catana e a enxada."
António Jacob também pouco ou nada sabe sobre os heróis nacionais. E tem uma mínima noção sobre o fundador da União do Povo Angolano/Frente Nacional de Libertação de Angola (UPA/FNLA), Holden Roberto, descrito no livro de João Paulo Ganga como o pai do nacionalismo angolano.
"Os heróis nacionais que lutaram para independência de Angola, temos o Alberto... Estou a esquecer o nome", diz.
Mas Tomás Bernardo, outro jovem residente na capital angolana, não tem dificuldades em mencionar nomes de outros heróis, para além de António Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola.
"Caso de Holden Roberto, Jonas Savimbi, embora tenham tido posteriormente conflitos internos", exemplifica, mas lamenta: "Sinto que há heróis que foram esquecidos".
Preferência para heróis estrangeiros?
Por isso, o jovem Tomás Bernardo não tem dúvidas em afirmar que os heróis nacionais não são valorizados, quer pela juventude quer pelo Estado.
"Estão a ser pouco valorizados não só ao nível estrutural, como também pelos próprios médias que pouco ou nada falam sobre esses heróis que tombaram", entende.
Exemplo de não valorização é o facto de alguns jovens preferirem usar camisolas com os rostos de Thomas Sankara, o Presidente revolucionário do Burkina Faso, ou de Malcom X, ativista dos direitos civis nos Estados Unidos, em detrimento dos heróis angolanos, como é o caso de Kim de Andrade, jovem ativista angolano.
"Eu uso a camiseta de Malcom X porque do ponto de vista político não me vai levar a perseguição política ao nível da política doméstica", justifica.
"História de Angola tem sido mal contada"
Para Tomás Bernardo, a desvalorização destes heróis começa logo no sistema de ensino angolano.
"A história angolana ainda é censurada. Já tive professores de história que disseram que, nós aprendemos menos sobre a nossa história do que lá fora, na Europa ou nas Américas. Sinto que ainda há censura sobre aquilo que concerne ao ensino sobre a verdadeira história de Angola", entende o jovem.
Kim de Andrade também diz que a história de Angola tem sido mal contada nas escolas e nos livros. E acrescenta: "Para mim, o dia 4 não simboliza essencialmente o inicio da luta de libertação nacional. O 15 de março é para mim a data do início da luta pela libertação nacional".
Neste momento, no Largo 1º de Maio – local onde foi proclamada a independência nacional – há apenas uma estátua de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
António Jacob defende a inclusão de outros heróis no local "porque são os membros que lutaram para libertação de Angola".