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"A polícia angolana é alérgica a manifestações de ativistas"

13 de março de 2023

No fim de semana, uma vigília em homenagem ao rapper Azagaia foi inicialmente reprimida pela polícia em Luanda. Ativista Hitler Samussuku diz que "está na hora" de o Estado angolano permitir o direito à manifestação.

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Foto de arquivo
Foto de arquivoFoto: John Wessels/AFP

No sábado (11.03), a polícia angolana reprimiu inicialmente uma vigília em homenagem ao rapper moçambicano Azagaia, que morreu na semana passada em Maputo.

Os ativistas dizem que comunicaram a realização da vigília à polícia e a atividade não foi autorizada. Mesmo assim, dezenas de jovens foram para as ruas de Luanda homenagear o músico. "Depois de perceberem que as pessoas tinham chegado em massa", as autoridades "não conseguiram controlar a situação", conta o ativista Hitler Samussuku em entrevista à DW África.

O membro do Movimento Hip-Hop 3ª Divisão critica a postura da polícia angolana, que, segundo diz, tem "violado sistematicamente o direito de reunião e manifestação, consagrado na Constituição". E diz que "já está na hora" de o Estado começar a aceitar esse "princípio democrático".

DW África: No sábado, que razões apresentou a polícia angolana para reprimir a vigília?

Hitler Samussuku (HS): O comandante da esquadra disse que os jovens que pretendiam concentrar-se naquele local para fazer a vigília careciam de uma autorização do governo provincial, porque ele depende de órgãos superiores. Enquanto não tiver ordens superiores, ele não permitiria a concentração de jovens para fazer a vigília.

DW África: Não tinham comunicado às autoridades a vossa intenção de fazer vigília?

HS: A morte de Azagaia foi na quinta-feira (09.03) e, no dia seguinte, começámos a elaborar uma carta para endereçar às autoridades com o propósito de informar sobre a nossa pretensão de realizar uma vigília. Eles sugeriram-nos fazer chegar a carta a uma esquadra mais próxima, tendo em conta que nós não tínhamos informado o governo provincial.

Vigília em Tete, Moçambique, em memória do rapper moçambicano Azagaia
Vigília em Tete, Moçambique, em memória do rapper moçambicano Azagaia, que faleceu na semana passadaFoto: Jovenaldo Ngovene/DW

O responsável pela esquadra disse que não iria garantir nenhuma segurança, antes pelo contrário. Ainda assim, depois de algumas horas, voltou a ligar para nós, pedindo para reunirmos às 09h00. Estava na reunião o comandante da esquadra, mas este recebeu um reforço de alguém que exercia funções de chefia ao mais alto nível, no comando municipal daquele perímetro onde nós pretendíamos organizar a manifestação. E esse senhor é que disse que iria reprimir a vigília.

DW África: Mas acabaram por conseguir levar avante a vigília, apesar da forte presença policial...

HS: Deixámos bem claro que, independentemente das ameaças que a polícia estava a fazer, iríamos concentrar-nos naquele espaço. Quando eram 17h00, o espaço já estava totalmente inundado com agentes da polícia. Nós tentámos entrar no largo e eles não permitiam. Levou muito tempo. Perto das 19h00 apareceu um outro responsável da polícia, que procurou dialogar connosco e depois permitiu que ficássemos lá das 19h00 às 21h30.

Azagaia: Lenda do hip-hop e herói do povo

Ou seja, nósconseguimos fazer a vigília depois de muita resistência contra a polícia. Conseguimos reunir mais de duzentas pessoas naquele espaço e conseguimos cumprir aquilo que estava agendado. Depois de perceberem que as pessoas tinham chegado em massa, em grupos, vinham de todos cantos, eles não conseguiram controlar a situação, mas no início foi muito difícil.

DW África: Acredita que o facto do músico moçambicano Azagaia ter sido uma voz crítica e influenciado movimentos cívicos poderá ter motivado esta repressão?

HS: Não necessariamente. A nossa polícia tem sido alérgica a qualquer tipo de manifestação ou concentração ligada a jovens ativistas. Incomoda-os tudo o que estiver ligado aos ativistas. Têm alergia a este tipo de iniciativa. A polícia tem violado sistematicamente o direito de reunião e manifestação que está consagrado na Constituição da República de Angola, que o Presidente João Lourenço jurou cumprir e fazer cumprir. Então, as nossas autoridades devem começar a aprender a lidar com estas coisas, porque a manifestação faz parte dos princípios democráticos. Está mais do que na hora de começar a aceitar isso.