A queda do líder sul-africano Julius Malema
8 de fevereiro de 2012Julius Malema perdeu o recurso apresentado contra a suspensão de cinco anos do ANC, que lhe foi imposta em novembro passado por indisciplina. O que mais caracteriza a sua atuação pública são as suas afirmações controversas e provocantes como esta: “Um líder pode projetar-se com avanços como a transformação económica radical e a transferência de riqueza das minorias para as maiorias, sem vergonha e sem intenção de agradar à Grã-Bretanha ou a quaisquer outros colonialistas.”
A provocação era dirigida também à liderança do seu próprio partido. No início do ano passado, Malema esteve em pé de guerra com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. O jovem, que começou por ser um dos principais aliados de Zuma, acusou-o de ignorar os sul-africanos pobres que o levaram ao poder, em 2009. E criticou-o por não ter introduzido mudanças fundamentais como a nacionalização dos recursos naturais e das matérias primas, nomeadamente ouro e diamantes, assim como minas e terras, de modo a beneficiar a maioria da população negra.
O ataque ao Presidente Zuma
Malema também acusou Zuma de não dar seguimento à agenda africana iniciada pelo ex-presidente, Thabo Mbeki, que promoveu o estatuto de independência dos países africanos em questões internacionais contra qualquer influência de ex-potências coloniais e também da Europa e dos Estados Unidos. Malema afirmou: “O presidente Mbeki opunha-se diretamente a esse tipo de conduta e, desde a sua saída, temos assistido a um declínio.”
Comentários como este e o facto de ter exigido a mudança de regime do presidente Ian Khama no vizinho Botswana, fizeram com que Malema fosse considerado culpado de indisciplina e suspenso por cinco anos do ANC, no final de 2011. O carismático líder e outros cincos dirigentes da organização recorreram da decisão do partido, mas o Comité Disciplinar de Apelação, liderado pelo ex-secretário-geral do ANC Cyril Ramaphosa, confirmou as suspensões.
Condenado a ser esquecido
O Comité classificou os argumentos de Malema contra a sua suspensão como “ingénuos, absurdos e ridículos”. E Ramaphosa deixou claro que a decisão tomada foi unânime. Julius Malema foi considerado culpado de semear divisões não só no seio do ANC, mas também entre a população multirracial da África do Sul.
As reações à evolução recente da situação de Malema são mistas e a maioria dos analistas diz que o jovem será cada vez mais isolado. Lesifo Tefo, professor de ciências políticas na Universidade da África do Sul, em Pretória, preconiza: “Em breve ele irá perceber que quando os dias são escuros, os amigos são realmente poucos. Deverão ser ouvidas muito poucas vozes em sua defesa, que em pouco tempo serão esquecidas.”
Julius Malema surgiu no cenário político da África do Sul há cerca de quatro anos, quando se colocou ao lado de Zuma e fez campanha pela queda do ex-presidente Mbeki. Era visto como alguém corajoso e sem papas na língua. Mas a maré da sua sorte mudou e parece que poucos irão sentir falta de Malema, incluindo as pessoas que chegaram ao poder com o seu apoio.
Autores: Subry Govender/Madalena Sampaio
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha