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"A zunga não vai acabar": Vendedoras protestam em Luanda

22 de maio de 2023

Cerca de 400 "zungueiras" foram dispersadas pela polícia quando se manifestavam contra a proibição do comércio ambulante na capital angolana. Governo diz que quer "organizar" e não extinguir venda ambulante.

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Foto: Borralho Ndomba/DW

Um grupo de 400 vendedoras ambulantes protestou na manhã desta segunda-feira (22.05), de forma espontânea, contra o programa do governo provincial de Luanda (GPL) que visa pôr fim à venda desordenada na capital angolana.

As "zungueiras", como são vulgarmente conhecidas, protestaram na sede do GPL e no Palácio da Justiça e terminaram o protesto no Mercado do São Paulo, o maior mercado da cidade, onde se concentram também centenas de vendedores ambulantes, ocupando passeios e ruas.

As comerciantes acusam o governo de Manuel Homem de fechar os espaços onde exercem a venda informal sem criar novos mercados.

Polícia trava "zungueiras"

O grupo de mulheres desceu a Avenida de Portugal, dificultando a circulação automóvel e concentrou-se na Mutamba, o coração da capital angolana, onde se localiza também o GPL.

O protesto acabou por ser dispersado pela polícia quando se aproximava já do Palácio da Justiça, na Cidade Alta, onde se encontra também o Palácio Presidencial, e ouviram-se algumas explosões, segundo a agência de notícias Lusa. A polícia remeteu esclarecimentos para mais tarde.

Em vídeos que circulam na Internet, várias mulheres desfilam pela Avenida de Portugal, algumas levando à cabeça alguidares com os seus produtos e cantam palavras de ordem como "O meu negócio está com a polícia, mas a zungueira não cansa, está sempre na luta".

Na Mutamba, uma vendedora desafiava: "Comandante, leva a mensagem ao João Lourenço [Presidente da República], a 'zunga' não vai acabar, nós acostumamos a 'zungar', mesmo o próprio João Lourenço, a mãe dele andou na 'zunga'".

Em causa está o anúncio do encerramento de armazéns naquela zona comercial de Luanda, fonte de abastecimento do negócio da maioria das vendedoras ambulantes da área.

Governo "surpreendido" com protesto

O governo provincial de Luanda sublinha que não pretende pôr fim à venda ambulante na cidade, mas sim organizar a atividade comercial, mostrando-se surpreso com a ação de protesto das "zungueiras".

Num comunicado dirigido às redações, o GPL salienta que foi aprovada há seis meses uma Estratégia para Mitigação da Venda Desordenada (EMVD), estando a ser implementadas ações previstas no Plano de Reordenamento do Comércio nos municípios de Belas, Viana, Cacuaco, com "ganhos visíveis" em várias avenidas.

Angola | Straßenhändlerinnen in Luanda
Ativistas alertam que "zungueiras" são as mulheres que mais veem os seus direitos desrespeitados pelas autoridadesFoto: B. Ndomba/DW

"Na sequência do cronograma, e findo o processo de sensibilização e cadastramento, os municípios de Luanda e do Cazenga iniciaram, ontem, domingo, 21 de maio, a implementação do plano aprovado ao longo das avenidas Cónego Manuel das Neves e Ngola Kiluanje, bem como das ruas Rei Mandume e da Gajajeira, nos distritos urbanos do Sambizanga e do Rangel", prossegue o comunicado, dando conta de que "hoje, surpreendentemente, constatou-se o movimento de um grupo de pessoas no município de Luanda, proferindo cânticos e palavras de ordem".

O GPL reafirma que o Plano de Reordenamento do Comércio não pretende extinguir a venda ambulante, mas sim organizar a atividade comercial ao nível da província, sobretudo junto a zonas residenciais, e apela à compreensão e colaboração de comerciantes e público em geral para que sigam as orientações da fiscalização presente no local.

Reflexões Africanas: Zungueiras, mulheres inspiradoras