A África vista pelo Ocidente é tema de teatro na Alemanha
11 de junho de 2012
Não há negros na peça "Lua Africana". Esta não é uma história sobre África, mas sobre brancos que vão para África. Ela conta quais são os preconceitos que levam na bagagem e como estes mudam, passado algum tempo.
Nem sequer a música é africana, mas da autoria de afro-americanos com uma visão ocidental sobre o continente. É o caso da cantautora Tracy Chapman.
Um dos protagonistas chama-se Martin, um alemão com negócios obscuros em África, que durante a peça retrara a realidade que encontra: “aqui se casas e tens um filho, de repente, tens a resposanbilidade por 20 crianças e as suas famílias. O menino no pátio com moscas nos olhos. Quem precisa de dinheiro, pede-te emprestado. Aqui, o Martin insignificante da província alemã tornou-se num grande homem, muito respeitado!"
Na peça Martin dá a crianças africanas medicamentos falsificados, porque precisa do dinheiro. O homem de negócios queria enriquecer para valer mais aos olhos dos africanos. Por causa dos medicamentos as crianças adoecem. A doença chama-se “African Moon” ou “Lua Africana”. Mas o título da peça também alude aos lugares comuns do imaginário africano na Europa, como o pôr-de-sol e o safari.
Sucedem-se outros europeus como a ingénua Dora e um jornalista apostado em fazer o bem em África.
Uma história real
Gabriel Gbadamosi, autor da peça, é filho de pai nigeriano e mãe irlandesa. Vive em Londre com a família. Como repórter, especializado em economia e corrupção, viajou por toda a África. Esta experiência é incorporada na peça.
O autor explica que "a segurança e a distribuição de medicamentos são problemas sérios em África. Na Nigéria, 80% dos comprimidos são falsificados e agravam as doenças. Em todo o continente, o número correspondente é de 50 a 80%. Os medicamentos falsos são produzidos na China e na Indonésia. É um problema enorme e por isso escolhi-o como tema da minha peça".
A série “Teatro além da Europa” em Krefeld-Mönchengladbach é uma ideia do director Matthias Gehrt. Durante vinte anos o encenador trabalhou em teatros de todo o mundo, em Lagos, na Nigéria, no México e no Sri Lanka.
As pessoas que conheceu na profissão são a base do projeto invulgar que desenvolveu nas cidades de Krefeld e Mönchengladbach. E os temas que assim chegam à província alemã também não são evidentes. "Granizo sobre Zamfara", por exemplo, é uma peça africana de Sefi Atta que fala da lapidação.
Para a concretização deste projeto, Matthias Gehrt explica que “dá muito trabalho organizar a vinda de autores de fora da Europa, que têm uma cultura totalmente diferente da nossa. Mas nós queremos o confronto com a estética e a tradição dos outros. Este choque das culturas, este encontro intercultural para o público dá-se na sala do teatro”.
O diretor de teatro conta que já surgiram inumeros mal-entendidos, “porque não é apenas uma língua diferente, são outras culturas”, explica. No entanto, “o desafio é aliciante: atores alemães interpretam literatura não europeia para um público alemão", conclui Matthias Gehrt.
Autores: Dorothea Marcus / Cristina Krippahl
Edição: Glória Sousa / António Rocha