Aberta ao Mundo: Lisboa acolhe 12ª Feira do Livro de Fotografia
A 12ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa trouxe à Lisboa Mário Macilau. O renomado fotógrafo profissional moçambicano expõe a maquete do seu próximo livro a ser lançado em fevereiro de 2023 por uma editora alemã.
Evento aberto ao mundo
A Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, que acontece há 12 anos, é obra de paixão dos seus promotores por não ser economicamente viável. O fascinante, segundo os curadores, é a mobilização de projetos ativos num contexto de união, trazendo temáticas diversas de profissionais de vários países, mas poucos de África. O evento está aberto a todos.
A favor de mais inclusão
A feira, que depende de uma estrutura totalmente voluntária, sem qualquer tipo de apoio financeiro ou reconhecimento oficial, acaba por ser um espaço que dá voz aos autores e contribuir para uma sociedade onde todos se aceitam como são. As relações sociais que a iniciativa proporciona poderão contribuir para a construção de novos projetos, mais inclusivos, segundo a organização.
Mais sinergia com profissionais de África
Pela inclusão, este ano, de Moçambique veio Mário Macilau. A organização apela a mais participação de fotógrafos africanos. "Há alguns anos a tentar criar alguma sinergia, porque havia e ainda há um movimento grande com vontade de trazer outros fotógrafos para fazer residência na cidade, mas sei que têm muitas dificuldades", dá conta Pedro dos Reis, um dos quatro curadores da feira.
Pérola do Índico
Para o curador, Mário Macilau é uma espécie de pérola do Índico nesta exposição. «Estamos muito agradados de ele ter tido a iniciativa e vontade de querer participar, não só com uma maquete», refere, em alusão ao livro do fotógrafo moçambicano a ser publicado pela Kehrer, na Alemanha, em fevereiro de 2023.
A força da crença
Mário Macilau expõe no certame o esboço daquilo que será o seu segundo livro de fotografias, que devia ter saído há dois anos. A obra tem como substância a prática do animismo na cultura moçambicana da atualidade. "O essencial neste livro é mesmo o projeto sobre a crença", precisa o profissional moçambicano, resultante do seu contacto com a vida, sobretudo no meio rural.
A fé, o animismo e a nova geração
O animismo é herdeiro de formas tradicionais de religião nas quais se acreditava existirem espíritos que habitam os objetos e os fenómenos da natureza. Estas religiões preservaram as antigas tradições culturais de Moçambique. Mas, hoje, refere Macilau, «muita coisa está a mudar» com a nova geração. "Há também nesse projeto a preocupação pela perda de valores tradicionais e culturais".
Tradição e feitiçaria
Através desta obra, o fotógrafo lança para reflexão o facto dos «movimentos tradicionais religiosos serem vistos em Moçambique como feiticeiros», contrariamente ao que acontece com o catolicismo. "Na verdade, o projeto abre esse espaço de diálogo, para provocar debate e mexer com as emoções", afirma.
Mostrar o íntimo de África
Enrique Vives-Rubio, fotojornalista espanhol que acompanha a feira todos os anos, aprecia sobretudo a banca onde estão expostas as maquetes. «Porque é aqui onde a gente descobre coisas que ainda não vimos em lado nenhum», afirma. Destaca em particular a obra de Mário Macilau, que mostra o íntimo de África distanciado do que é a perspetiva europeia.
Macilau em "As Máscaras do Corpo"
"Invisible Faith" é uma das duas obras de Mário Macilau também representadas na exposição "As Máscaras do Corpo", inaugurada esta 5ª-feira (24/11) na Galeria MOVART, em Lisboa. A coletiva reúne obras de artistas que fazem parte do acervo da galeria, entre os quais a angolana Alice Marcelino "Kindumba" e o moçambicano Gonçalo Mabunda "O solvente".
Dois rapazes e o peixe
Uma das obras que desperta a atenção do público pela sua autenticidade é este quadro ("Two boys with fish"). Antes depreciada e considerada primitiva, a arte africana tornou-se aos olhos dos europeus um objeto de puro exotismo, tanto pelo uso de diferentes materiais como pela sua técnica. A exposição está aberta ao público até 10 de fevereiro de 2023.
Pandemia da COVID-19 também em livro
Dois dos projetos presentes na Feira de Lisboa retratam os longos meses de convívio com a pandemia da COVID-19. Um deles é de Silvia Gonçalves, que coloca em livro um dos temas da atualidade. Mas também há trabalhos mais intimistas ou artísticos que abordam temáticas desde a orientação sexual, o racismo, a desigualdade, segurança alimentar, as alterações climáticas, entre outros.
O drama dos estados de emergência
O mundo ficou suspenso e viveu tempos difíceis, segundo retrata Silvia Gonçalves no seu projeto. Trata-se do retrato de uma família que viveu o drama dos estados de emergência. "Nem todos os países lidaram da mesma forma com a pandemia. Alguns ainda se debatem com problemas", lembra o curador Pedro dos Reis.