Adeptos dizem que futebol está "moribundo" no Zaire
22 de março de 2022A Estrela FC do Nóqui atirou a toalha ao chão. A época já estava a correr mal à equipa e, por falta de apoio e meios financeiros, o clube acabou por não conseguir terminar o campeonato.
Segundo o presidente do Estrela FC, Pedro Afonso, faltou dinheiro para as viagens aos jogos fora de casa, e problemas internos na direção do clube agravaram a situação.
"Não há meios financeiros, nem apoio. Uma pessoa nada pode fazer sozinha. Todo o mundo fica só a olhar. Mas o que está a acontecer é que a direção está mal e não só, os nossos dirigentes provinciais também estão mal", explica o presidente.
A Federação Angolana de Futebol exige a cada clube no mínimo 30 milhões de kwanzas (quase 60 mil euros) para a deslocação e apoio da equipa durante o campeonato. É dinheiro que a Estrela FC do Nóqui não tem.
História repete-se
Não foi a primeira vez que um clube do Zaire desistiu do campeonato nacional. Na última década, outros dois clubes viram-se obrigados a fazer o mesmo.
Os adeptos do desporto-rei dizem que os governantes têm culpas no cartório. Baptista João, um residente de Mbanza Congo, diz que o desporto-rei está moribundo na província.
"Em qualquer região, o que mais predomina é o futebol, mas aqui é menosprezado, as condições são precárias para praticar a atividade, começando pelos próprios investimentos internos", afirma o residente.
O Zaire tem uma população de 700 mil habitantes, mas só há dois campos de futebol em boas condições na província. Os cidadãos pedem mais campos e a revitalização dos campeonatos escolares e regionais, para promover a prática do desporto.
São pontos para o Governo tomar nota. Mas, quanto às competições nacionais, o munícipe Eduardo Kediamosiko considera que a culpa também é dos clubes.
"As equipas preparam-se mal, às vezes estão sem condições mas, mesmo assim, querem participar nos campeonatos. É mesmo difícil, as equipas devem estar preparadas a nível psicológico e financeiro", diz.
Governo "não tem verbas" para apoiar
Sobre esta questão, o chefe do departamento provincial dos desportos, António Lopes Lino, é claro, "o financiamento ou o patrocínio das equipas dependem dos próprios clubes, porque o governo não tem verbas para apoiar o desporto no seu todo".
António Lopes Lino refere, por outro lado, que outras equipas da província, como o São Salvador do Congo, não atiraram a toalha ao chão noutras épocas.
"De há um tempo a esta parte, as nossas equipas já não desistem. Tivemos este infortúnio desta vez, com a Estrela FC do Nóqui. A equipa surgiu há três anos, infelizmente a imagem que apresentou na época passada e a que apresentou nesta época já não foi igual, acreditamos que é por falta de patrocínio", admite Lino.
Sem patrocínios e sem apoios, tanto dos cidadãos como do Estado, é difícil a qualquer clube resistir ao peso financeiro dos campeonatos, incluindo da segunda divisão.