Afeganistão: EUA rejeitam intervenção de ex-Presidente
19 de agosto de 2021"Ele [Ashraf Ghani] já não é uma pessoa importante no Afeganistão", disse hoje à imprensa a secretária de Estado adjunta norte-americana. E Wendy Sherman recusou-se a comentar a decisão dos EUA de lhe conceder asilo, depois de ter fugido do país no domingo (15.08), antes da ocupação de Cabul pelos Talibãs.
Ghani manifestou, nesta quarta-feira (18.08), a intenção de apoiar as negociações entre os Talibãs, que tomaram o poder em Cabul, e antigos altos funcionários, acrescentando que está "em conversações para regressar" ao país, após ter fugido para os Emirados Árabes Unidos.
"Apoio a iniciativa do Governo de negociar com [o ex-vice-Presidente] Abdullah Abdullah e o ex-Presidente Hamid Karzai. Desejo sucesso a este processo", afirmou, através da rede social Facebook.
Ashraf acusado de desvio de fundos
O Presidente enviou uma mensagem de vídeo aos compatriotas, a partir dos Emirados Árabes Unidos, país que horas antes tinha confirmado tê-lo recebido por "razões humanitárias".
O embaixador do Afeganistão no Tajiquistão acusou hoje o antigo Presidente de ter desviado 142 milhões de euros de fundos estatais e apelou à detenção de Ghani.
Os Talibãs conquistaram Cabul no domingo (15.08), colocando fim a uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO.
Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os Talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
Na terça-feira (17.08), os chefes da diplomacia da UE decidiram avançar com a retirada de civis e diplomatas do Afeganistão, nomeadamente cidadãos europeus, devido à "situação perigosa" do país.
Merkel e Biden coordenam retirada
A chanceler alemã, Angela Merkel, falou esta quarta-feira (19.08) com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para coordenar as operações de evacuação no Afeganistão realizadas por Alemanha e EUA, na sequência da tomada do poder pelos talibãs.
O Governo alemão disse, num comunicado, que Merkel salientou a "necessidade" de "permitir" a evacuação do "maior número possível de cidadãos afegãos". Além disso, "concordaram em evacuar muitas pessoas que necessitavam de proteção".
Esta conversa surge numa altura de intensas ações diplomáticas da chanceler alemã sobre a crise no Afeganistão.
Nos últimos dois dias, Merkel falou com Biden, os primeiros-ministros britânico e italiano, Boris Johnson e Mario Draghi, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.
Merkel falou também com o Presidente do Uzbequistão, Shavkat Mirziyoyev, para lhe agradecer a abertura do aeroporto de Tashkent para a evacuação, com o Presidente do Paquistão, Imran Khan, e com o Emir do Qatar, Tamin Al Thani.
"Em todos os seus apelos, a Chanceler reiterou a sua exigência aos Talibãs de renunciarem à violência, de respeitarem os direitos humanos e de garantirem a possibilidade de todos aqueles que querem deixar o Afeganistão o fazerem", explicou Berlim.
Comunicação com os Talibãs
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, referiu que os militares norte-americanos ainda estão a trabalhar para o objetivo de retirar do país um máximo de entre 5.000 e 9.000 pessoas por dia.
Segundo Kirby, os militares norte-americanos disseram que estão regularmente em comunicação com os Talibãs para ajudar a transportar civis afegãos até ao aeroporto e também para agilizar o processo burocrático, incluindo para afegãos que se candidataram a Vistos de Imigração Especiais.
O porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano acrescentou que as tropas norte-americanas têm disparado tiros de aviso no perímetro do aeroporto, como medida de controlo das multidões. Neste momento, há, precisou Kirby, 4.500 efetivos dos Estados Unidos