Afeganistão: Talibãs anunciam novo Governo nos próximos dias
1 de setembro de 2021Os talibãs indicaram esta quarta-feira (01.09) que já estão quase concluídas as rondas de consultas para a formação do novo Governo, pelo que esperam poder anunciar nos próximos dias quem serão os dirigentes que tomarão o comando do Afeganistão.
"Completaram-se as conversações, trocas de opiniões e consultas do Emirado Islâmico (como os talibãs designam o país) sobre a formação de um novo Governo", disse o porta-voz do movimento islamista radical, Bilal Karimi, acrescentando que "está preparado o terreno para a formação do novo Governo, que será anunciado muito em breve, em alguns dias".
O porta-voz adiantou que, por enquanto, a informação sobre as nomeações, em particular sobre a lista de ministros que vão fazer parte do novo executivo afegão, não está completa. "Temos de esperar pelo anúncio", insistiu, observando que ainda não é claro quem será o líder desde novo Governo.
Retomada de voos
Entretanto, uma equipa técnica do Qatar chegou esta quarta-feira a Cabul para abordar a retomada das operações no aeroporto da capital afegã, depois da sua interrupção após a partida das últimas tropas dos Estados Unidos no Afeganistão.
De acordo com uma fonte citada pela agência de notícias EFE, a equipa técnica do Qatar já deu início a conversações com base "num pedido da outra parte", mas não há ainda um acordo para oferecer assistência técnica aos talibãs, que agora controlam o aeroporto.
As conversações estão em curso, a nível de "segurança e operação", precisou a mesma fonte, segundo a qual o objetivo é que os voos sejam retomados de e para Cabul "para a ajuda humanitária e para oferecer a liberdade de movimentos de uma forma segura", incluindo a retirada de civis afegãos que desejem abandonar o país.
Por seu lado, a estação de televisão Al-Jazeera noticiou que os talibãs preferem que a retomada das operações no aeroporto de Cabul esteja em "mãos afegãs", mas estão dispostos a pedir ajuda à Turquia ou ao Qatar, segundo indicaram fontes do grupo islamista radical.
"Corredor seguro"
Hoje mesmo, o ministro dos Negócios Estrangeiros qatari, Mohammed bin Abderrahman Al-Zani, instou os talibãs a abrirem um "corredor seguro" para a saída e entrada dos civis no país, numa conferência de imprensa conjunta com a sua homóloga holandesa, Sigrid Kaag, em Doha.
Al-Zani afirmou que "o Estado qatari está a trabalhar de forma contínua para facilitar a saída dos estrangeiros do Afeganistão", sem fornecer mais pormenores sobre o papel do Qatar que, nos últimos anos, manteve boas relações com o movimento talibã.
"Instamos os talibãs a permitirem a liberdade de circulação e a estabelecerem um corredor seguro para a saída e entrada das pessoas", acrescentou o chefe da diplomacia qatari.
Crítica aos Estados Unidos
A retirada final das tropas norte-americanas aconteceu na última segunda-feira (30.08), e os talibãs celebraram o momento com tiros e declarações de que o país estava "independente".
Mas, esta quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Yaïr Lapid, sustentou que a retirada norte-americana do Afeganistão foi "provavelmente a decisão certa", mas não foi convenientemente executada.
Grande aliado dos Estados Unidos, Israel ainda não tinha emitido qualquer comentário oficial sobre a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, onde os talibãs reconquistaram o poder a 15 de agosto.
A retirada "não aconteceu como deveria", declarou o chefe da diplomacia israelita, numa conferência de imprensa realizada em Jerusalém com jornalistas estrangeiros.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, reiterou na terça-feira que a sua decisão de pôr fim à intervenção militar dos Estados Unidos no Afeganistão foi a correta, apesar das fortes críticas às operações de retirada de civis, caóticas e enlutadas por um atentado bombista que fez pelo menos 170 mortos, entre os quais 13 militares norte-americanos, no exterior do aeroporto de Cabul.
Por seu turno, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira que o resultado dos 20 anos da presença das forças militares dos Estados Unidos no Afeganistão foram "apenas tragédias e perdas".
"Por 20 anos estiveram as tropas americanas nesse território e por 20 anos buscaram civilizar as pessoas. De facto, impor suas normas e padrões, inclusive, de organização política da sociedade. O resultado foi apenas tragédias e perdas", disse o chefe de Estado russo, durante ato em Vladivostok.
Apoio do China
Entretanto, os talibãs esperam "manter uma relação muito sólida com a China" e "melhorar o nível de confiança mútua", disse esta quarta-feira o seu porta-voz, numa altura em que procuram apoio internacional, após conquistarem Cabul e assumirem o poder.
"A China é um país muito forte e importante na nossa vizinhança. Tivemos relações muito positivas, no passado, e queremos fortalecê-las, assim como melhorar o nível de confiança mútua", disse o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, numa entrevista à televisão estatal CGTN.
O grupo solicitou apoio internacional para reconstruir a economia afegã, atingida por duas décadas de conflito e fortemente dependente da ajuda externa.
A China ainda não esclareceu se reconhecerá um Governo talibã, mas indicou que o Afeganistão entrou "num novo ponto de partida" e que espera que os insurgentes formem um governo "islâmico, mas aberto", sugerindo que Pequim avaliará o seu comportamento antes de reconhecer a legitimidade das novas autoridades afegãs.
Artigo atualizado às 17h55 do Tempo Universal Coordenado (UTC) com a informação do novo Governo afegão, que deve ser anunciado em breve.