Dhlakama quer ser Presidente do centro e norte de Moçambique
11 de janeiro de 2015"A RENAMO vai formar os governos provinciais nas seis províncias e eu, Afonso Dhlakama, passarei a ser presidente da república do centro e norte de Moçambique", declarou Afonso Dhlakama, o líder da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido de oposição, num comício perante milhares de pessoas no sábado (10.01) na Beira, província de Sofala. Dhlakama foi largamente aplaudido e disse que considera esta medida como "pacífica e suave" para a atual tensão política do país.
Apesar de nova república no centro e norte, RENAMO diz não querer dividir o país
Dhalakama garantiu contudo que, com a formação da república do centro e norte, não quer dividir o país nem dar independência a esta região, mas "autonomia política e económica" das províncias, indicando que não serão necessários passaportes para circular entre a zona sul e o centro e norte de Moçambique.
"Não me venha a FRELIMO dizer que é inconstitucional, porque em nenhuma parte do mundo a Constituição não é emendável. Há democracias no mundo com províncias autónomas", referiu Afonso Dhlakama, exemplificando com a Madeira e os Açores, em Portugal.
Sem adiantar datas, Afonso Dhlakama disse que vai nomear governadores e administradores nas províncias de Sofala, Tete, Zambézia e Manica (centro) e Niassa e Nampula (norte), cedendo a província nortenha de Cabo Delgado, de onde provém o Presidente da República eleito, Filipe Nyusi e as quatro províncias do sul (Inhambane, Gaza, Maputo Província e Maputo Cidade). Nestas cinco províncias, a FRELIMO ganhou as eleições gerais. Portanto, a linha divisória entre o sul governado pela FRELIMO e o centro-norte do país governado pela RENAMO passaria a ser o Rio Save - com a exceção de Cabo Delgado, que fica no extremo norte.
Falhou a proposta do governo de gestão
O líder da RENAMO salientou que a "única política judicialmente funcional" encontrada pelo partido foi a criação da república. Antes da validação dos resultados eleitorais, pelo Conselho Constitucional, a 30 de dezembro, a RENAMO propôs um governo de gestão com a FRELIMO, em resposta a uma alegada fraude eleitoral, e ameaçou criar um executivo próprio caso o partido no poder insistisse na rejeição da ideia.
A FRELIMO rejeitou a proposta de um governo de gestão. Para o Presidente da República cessante e da FRELIMO, Armando Guebuza, aceitar esta exigência seria um desrespeito pelos eleitores e um caminho para a "anarquia".
Moçambique realizou eleições gerais (assembleias provinciais, legislativas e presidenciais) a 15 de outubro, cujos resultados proclamados, e rejeitados pela oposição, dão vitória à FRELIMO e ao seu candidato presidencial Filipe Nyusi, colocando a RENAMO e o seu líder, Afonso Dhlakama em segundo lugar e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e o seu presidente, Daviz Simango em terceiro.
Dhlakama diz que continua disponível para negociar
Dhlakama manifestou-se mais uma vez disponível para negociar com o Governo, mas também se classificou como "superior política e militarmente", garantindo que não se irá "ajoelhar perante a FRELIMO" nem recuar e, se for necessário, "governar à força" na república anunciada no sábado.
O líder da RENAMO, que chegou ao comício escoltado por viaturas protocolares da Polícia moçambicana, entre a sua guarda armada, ao largo junto do edifício dos Caminhos de Ferro de Moçambique, avançou que voltará a percorrer as províncias do centro e norte, devendo terminar os encontros com os seus partidários na região sul do país. "O sul não tem culpa, mas é o regime da FRELIMO que tenta fazer da região o seu bastião contra a vontade do povo", sublinhou Afonso Dhlakama.