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Africanos frustrados com cobertura de ataques a Paris

Birgit Morgenrath/ Glória Sousa17 de novembro de 2015

A par da solidariedade com as vítimas dos atentados terroristas em Paris, nas redes sociais, muitos africanos mostram-se frustrados com o impacto dos ataques nos meios de comunicação social um pouco por todo o mundo.

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Conferência de imprensa do procurador-geral francês, François Molins, a 14 de novembroFoto: picture-alliance/Photoshot/Z. Lei

Os atentados terroristas da última sexta-feira (13.11), em Paris, que causaram 129 mortos, estão a causar um misto de emoções entre os cidadãos africanos que se mostram solidários com as vítimas, mas consideram "desigual" a cobertura internacional dos ataques em Paris.

"Duas mil mortes na Nigéria e ninguém diz nada", comenta um usuário na página da DW Português para África na rede social Facebook.

"Na Síria, morrem todos os dias mais de 300 pessoas e o sangue também é vermelho," escreve um internauta numa outra página da DW.

Se compararmos com outros atentados terroristas que matam todos os dias centenas de civis em Gaza, na Síria, no Iraque ou na Somália, os ataques de Paris têm uma cobertura muito mais intensa por parte dos média ocidentais, observa o burundês David Gakunzi, diretor do grupo de reflexão independente Global Forum, em Paris.

"Há sempre esse sentimento amargo. Por exemplo, em Garissa, no Quénia, mais de 200 pessoas foram mortas e a mobilização internacional não foi tão grande como no caso de Paris. Também quando o [grupo terrorista] Boko Haram sequestrou mais de 200 raparigas, que mantém até hoje como reféns, a opinião pública internacional não foi tão mobilizada como em Paris," recorda.

Deutschland Tageszeitungen zu Anschlägen in Paris
Jornais alemães de 16 de novembro destacaram os atentatos terroristas em ParisFoto: DW/K. Symeonidis

Média refletem ordem global

Os média parecem, assim, ter dois pesos e duas medidas. O que, para o analista David Gakunzi, não é mais do que o reflexo da ordem global.

"A geopolítica do nosso mundo está organizada em centros e periferias. Então, quando não se está nos centros do mundo, não há cobertura dos média. Os média são um reflexo dessa geografia. Não é uma questão de segregação na abordagem da realidade, é muito mais um reflexo da política," explica.

Muitos jovens africanos sentem-se hoje parte da "aldeia global". Só na Nigéria e no Quênia, mais de 20 milhões de usuários estão registrados na rede social Facebook. A tecnologia existe para se comunicar em todo o mundo, mas muitas vezes essa comunicação é feita apenas num sentido, diz Gakunzi.

Deutschland Schweigeminute nach Terroranschlägen in Paris
Repercussão dos ataques levou a manifestações de solidariedade em todo o mundo. Na foto, concentração diante da Embaixada da França em BerlimFoto: Reuters/H. Hanschke

O analista cita como exemplo a Nigéria, onde o Boko Haram arrasou aldeias inteiras, mas o tema continua a passar ao lado na maior parte dos média.

"Neste novo fenómeno sociológico, em que muitos jovens em África usam os chamados média sociais, eles são parte da cultura global e sentem-se cidadãos desta aldeia global. E, por vezes, sentem-se frustrados," avalia.

De acordo com David Gakunzi, os Estados africanos podem contribuir para mudar o atual cenário mediático. Democracias fortes e estáveis são capazes de ter médias fortes com capacidade para transformar e fortalecer a imagem do continente africano no mundo, considera o analista.

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