Afropress: Ennahda é a principal força política na Tunísia
28 de outubro de 2011Com esta vitória, o partido islâmico Ennahda contará na nova assembleia com os partidos de esquerda, que conseguiram de forma dispersa cerca de 33% dos lugares. Os resultados desse pleito eleitoral suscitam reações nos jornais alemães.
"As previsões confirmaram-se", escreveu o Frankfurter Allgemeine Zeitung. "É o partido islâmico Ennahda que obteve o maior número de votos nas primeiras eleições livres na Tunísia. Durante a campanha eleitoral, o Ennahda apresentou-se como sendo um movimento político moderado. Não se exclui, contudo, uma certa desconfiança porque ainda não são conhecidos na totalidade os seus verdadeiros objetivos" acrescenta o jornal.
Die Zeit
O semanário Die Zeit nota, por seu lado, que "muitos ocidentais têm um grande medo do islão político. Este medo é exagerado porque o islamismo fracassou como um grande projecto que englobaria todo o mundo muçulmano". O artigo destaca mais à frente que "ninguém ou quase ninguém já se deixa inspirar pelo Estado teocrático revolucionário do ayatollah Khomeini. Os partidos islâmicos de hoje são mais modestos. São movimentos nacionais, conservadores e, muitas vezes, com uma forte componente social. Pode-se e deve-se viver com eles", conclui o semanário.
Handelsblatt
Para o Handelsblatt, de Düsseldorf, "é preciso que nos habituemos à idéia de que em muitos países árabes a democracia produziu partidos islâmicos fortes. Existem coisas piores", sublinha o jornal. Por causa do medo dos islamistas, os USA e a Europa apoiaram, durante muito tempo, déspotas como Ben Ali, na Tunísia ou Mubarak, no Egito. Agora deixaram de ter o direito de cometer o erro de retirar o seu apoio às jovens democracias por causa de resultados não desejados" destaca o jornal de Düsseldorf.
Entretanto, o islamismo radical está no centro dos artigos que os jornais alemães consagraram à continuação da ofensiva queniana contra as milícias al-Shebab no sul da Somália.
Süddeutsche Zeitung
"Todos contra os islamistas", titulou o Süddeutsche Zeitung. "O Quénia agiu segundo o princípio de que o ataque é a melhor defesa. Mas, diferentemente das intervenções do Uganda e do Burundi mandatadas pela União Africana, a ofensiva queniana, bem como os eventuais “raids” ocidentais, não são apoiados pelas Nações Unidas. Sómente a IGAD (Autoridade intergovernamental para o desenvolvimento, que agrupa seis países do leste de África) deu luz verde".
"A intervenção queniana, acrescenta mais à frente o jornal, levanta também algumas questões pertinentes, tendo em conta o fracasso das intervenções americanas no início da década de 90 e etíope em 2006. Que benefício político poderá a Somália tirar da invasão? E quais são os riscos para Nairobi, a capital queniana, que tenta impedir novos ataques terroristas no seu solo? "Uma coisa é certa", conclui o jornal, "a época em que o Quénia tentava permanecer militarmente afastado da Somália, pertence ao passado".
Frankfurter Allgemeine Zeitung
"O Quénia começa a armar-se mentalmente para um longo conflito. A França irá intervir militarmente na Somália para ajudar os quenianos?" No passado domingo, lê-se no Frankfurter Allgemeine Zeitung, "o porta-voz do exército queniano afirmou que um navio de guerra francês tinha disparado contra a cidade de Koday, perto de Kisimayo". O que o exército francês, entretanto, desmentiu.
Quanto ao presidente do governo somali de transição, Cheikh Sharif Ahmed, destaca o quotidiano, "já se pronunciou mais do que uma vez contra a presença de militares quenianos na Somália". Mogadíscio teme que esta presença consolide o estatuto da região de Juba, no sul, que proclamou a sua autonomia e que tem apoios de Nairobi.
Os jornais alemães da semana que termina também fizeram eco de um projeto europeu que quer impôr uma maior transparência financeira às sociedades europeias presentes nas explorações do gaz e do petróleo e na extração das minas e e exploração das florestas.
O projeto foi apresentado em Estrasburgo pelo Comissário para os Assuntos Financeiros, Michel Barnier e, caso se concretize, será algo que diz muito respeito ao continente africano.
Die Welt
A comissão europeia junta-se à idéia reivindicada há muito pela campanha "Publiquem o que paguem". Segundo o Die Welt, "essas reivindicações não são de hoje porque há muito tempo a sociedade civil, principalmente em África, critica o facto das empresas poderem, por exemplo, explorar petróleo na Líbia sem o dever de divulgar as suas relações financeiras com o governo". Segundo o projeto da Comissão Europeia, acrescenta o Die Welt, "as empresas deverão no futuro prestar informaçঙes sobre os vários pagamentos efetuados: impostos, taxas e bónus que pagam aos governos dos países hóspedes".
A diretiva deverá ainda obter luz verde do Parlamento europeu, algo que o jornal não duvida virá a acontecer. "Mas, em contrapartida, já se espera alguma resistência por parte dos governos. Em período de crise económica, alguns desses governos poderão temer para as suas grandes empresas um aumento de taxas administrativas se forem forçadas a fornecer informações sobre cada projeto". Sem contar, acrescenta a terminar Die Welt, "que se trata de informações sensíveis e que na competição com a China pelo acesso às matérias primas as empresas europeias poderiam ser penalizadas por uma tal transparência".
Autor: António Rocha
Edição: Cristina Kripppahl