Agenda 2063 da UA envolta em dúvidas
5 de julho de 2019O processo de unificação do continente africano deve continuar. É esse - pelo menos - o plano da União Africana (UA), reunida (04 a 08 de julho) na 12ª Cimeira Extraordinária em Niamey, no Níger.
Sobre a mesa está a Agenda 2063, o plano mestre para acelerar o desenvolvimento e o crescimento económico do continente. O plano Inclui: 14 iniciativas nas áreas de infraestrutura, educação, ciência, tecnologia, cultura e manutenção da paz, sob o lema "A África que queremos".
Mas nem tudo está a correr como esperado. Por exemplo, a iniciativa número cinco prevê um cessar-fogo total em todo o continente africano até 2020 - portanto já no próximo ano.
Dessu Meressa, do Instituto para Estudos de Segurança de Addis Abeba, tem dúvidas sobre se a meta poderá ser cumprida.
"De facto, as coisas não estão a correr como planeado. Estamos quase em 2020 e as armas ainda por cá andam. O certo é que as sete aspirações estão inter-relacionadas. Não podemos ver uma aspiração separadamente. Elas estão todas inter-relacionadas e uma tem impacto sobre a outra," avalia.
Para o cientista político togolês Désiré Assogbavi, trata-se de um objetivo ambicioso.
"Silenciar e desmantelar as armas em todo o continente é um projeto emblemático que considero muito importante. Significa progredir em direção à paz e segurança, o que é uma condição importante para o desenvolvimento,” defende.
Assogbavi acrescenta que "tem havido muita conversa, muitas reuniões, decisões sobre o silêncio das armas no continente, mas se você olhar para o continente, as armas não foram silenciadas. É o contrário, estamos com cada vez mais problemas causados por armas no continente," critica.
Trens de alta velocidade sem previsão
Outro objetivo que parece difícil de concretizar é o sonho de um transporte ferroviário continental. Uma rede de alta velocidade está planeada para conectar as ferrovias dos 54 países africanos e todas as capitais.
Mas Dessu Meressa não acredita que isso acontecerá num futuro próximo. "Para tal, os Estados membros teriam primeiro que melhorar sua infraestrutura nacionalmente", diz.
Pelo menos 12 mil quilômetros de novas rotas deverão ser construídos para isso. A avaliação de Désiré Assogbavi também é sóbria.
"Não basta que os países simplesmente ratifiquem propostas e depois não as implementem”. O analista considera que as grandes ambições da União Africana fazem parte do problema. "Projetos como a rede ferroviária precisam de financiamento. Tal investimento não acontece de um dia para o outro," conclui.
São ao todo 14 iniciativas, para a concretização das quais ainda restam 44 anos. Tempo suficiente? As dúvidas são grandes e persistem.