IURD: Ala angolana denuncia detenção de mais de 40 pastores
15 de abril de 2024Em comunicado, a ala "reformista" da IURD liderada pelo bispo Valente Bizerra Luís referiu que se registou, no domingo (14.04), um confronto entre as duas alas, o que obrigou a intervenção da polícia, tendo sido detidos mais de 40 pastores e obreiros.
"Até ao momento não existe nenhum auto de notícia com a identificação dos sujeitos [detidos], do crime, tão pouco da sua localização, optando pelo silêncio e, recusam-se a dizer onde estão, preferindo dizer apenas: não podemos falar nada por ordens superiores", lê-se na nota.
Na tarde desta segunda-feira o comando da Polícia em Luanda confirmou que pastores e obreiros da ala angolana da IURD foram detidos domingo por alegados crimes de perturbação de culto religioso, participação em motim e desobediência à ordem de dispersão.
Pórem, segundo o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, foram detidos 33 fiéis da IURD Angola no domingo, que foram encaminhados para o Ministério Público para posterior julgamento sumário.
Detenção
"Esta detenção ocorreu numa altura em que a polícia estava a realizar as ações e os cidadãos que foram detidos incorreram nesses crimes", disse Goubel, adiantando que "foi aberto um expediente e os mesmos foram encaminhados para o Ministério Público" para, de seguida, serem ouvidos pelo "juiz de garantia para o julgamento sumário".
Para a ala "reformista" da IURD Angola, a forma como aconteceram as detenções viola o direito de informação, previsto na Constituição angolana, e traduz-se em "abuso de autoridade, que torna os detidos reféns com a intenção de coagir uma coletividade a uma ação ou omissão".
A laicidade "precisa de ser material e não formal", salienta-se ainda na nota, contestando o que denominam tratar-se de "atrocidades e sucessivas violações dos direitos humanos e ilegalidades praticadas por agentes da polícia nacional".
Imagens que circulam nas redes sociais confirmam o confronto entre fiéis no domingo, dia em que alguns templos da IURD foram reabertos, entre eles da catedral do Alvalade, cuja missa foi dirigida pelo bispo Alberto Segunda, líder da ala brasileira.
Conflito remonta a 2019
Em novembro de 2019, dissidentes da IURD em Angola acusaram a direção brasileira de crimes financeiros, racismo, discriminação e abuso de autoridade, entre outros, e constituíram uma ala reformista, reconhecida pelo Governo angolano como legítima representante do movimento religioso brasileiro.
Na sequência, foram constituídos arguidos quatro membros da liderança da IURD, absolvidos em março de 2022, da maioria das acusações, exceto o ex-responsável Honorilton Gonçalves, condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica.
O conflito deu origem a duas alas - a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís - que reclamam ser as legítimas representantes da Igreja fundada por Edir Macedo.
O Governo angolano reconheceu a nova denominação da IURD Angola, Igreja do Reino de Deus em Angola (IRDA), determinando também a transferência de todo o património para a IRDA.
As alterações saídas da reunião extraordinária do conselho de direção da IURD Angolana, realizada em 08 de fevereiro, foram confirmadas no decreto executivo n.º74/24 de 14 de março do Ministério da Cultura e Turismo angolano.
Ainda em março, algumas dezenas de fiéis e pastores da IURD Angola protestaram em Luanda contra o despacho governamental que atribui nova denominação à instituição religiosa, considerando que a decisão foi "viciada", em favor da ala brasileira.