Novo edil da Beira desinteressado na liderança do MDM?
5 de março de 2021Discreto ou pouco mediático é como se pode definir à partida Albano Carige, o novo edil da Beira.
Tem um historial de destaque na oposição, embora sempre low profile. Foi próximo do falecido líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, e também de Daviz Simango, falecido líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Comanda a partir de agora o Chiveve na sequência da morte de Simango, em finais de fevereiro. Até há pouco dirigia o pelouro da construção e urbanização no município.
É engenheiro químico e trabalhou muito perto de Simango. Tal como o seu antecessor, tem um particular interesse pela proteção ambiental e por isso promete continuar a luta de Simango. Mas quanto a liderar o MDM, a segunda maior força da oposição em Moçambique, Carige não dá sinais de interesse. O próximo líder do MDM deverá sair do próximo congresso do partido, que deverá ser marcado em abril, quando o conselho nacional se reunir.
A DW África procurou "destapar o pano" que cobre Albano Carige, que tomou posse esta sexta-feira (05.03) como edil na praça do município da Beira.
DW África: Substitui um homem carismático, conhecido por arregaçar as mangas e trabalhar junto dos munícipes, e também vai liderar a chamada capital da oposição. Tudo isso assusta-o?
Albano Carige (AC): Assustar não, porque já vinha trabalhando com ele há bastante tempo. Provavelmente até em algum momento funcionava para o aconselhar em alguns posicionamentos. Também desenhávamos juntos algumas estratégias. É verdade que [a morte de Daviz Simango] foi um momento de choque, porque ninguém acreditava que aquilo poderia acontecer, mas Deus assim ditou e ninguém pode desmanchar isso. O resto é procurar honrá-lo naquilo que foram os seus feitos.
DW África: O facto de ser filho da casa, também é natural da Beira, e conhecê-la bem, usando as camisas da oposição, da RENAMO e MDM, dá-lhe também um certo à vontade...
AC: Naturalmente. Antes de trabalhar com ele já tinha trabalhado bastante com o presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama. Trabalhei quase oito anos como seu secretário particular e isso ajudou-me sobremaneira a lidar com muita facilidade com o malogrado engenheiro Daviz Simango, e também facilitou o nível de facilidade de confiança porque nalgum momento não tinha medo de dizer ao presidente que [algo] não estava correto, "que tal, vamos fazer assim ou vamos tomar este posicionamento". Discutíamos como se fossemos pessoas amigas, mas tudo com o objetivo de termos uma estratégia capaz de criar um conforto para o munícipe beirense. E quero dizer mais, nós na Beira não nos consideramos oposição, nos consideramos governo do dia. Oposição são os outros que devem se submeter aos nossos programas de governação.
DW África: É considerado um homem pouco mediático ou discreto. Como pretende conciliar isso com a sua tarefa de liderar o município a ese nível mais alargado?
AC: Muito simples: ser um homem com capacidade de ser um aglutinador de todos os extratos sociais, não confundir a política com a administração, sobretudo quando estiver diante do municípe beirense, saber que estou ali para servir, independentemente da sua cor política.
Aí estarei a atingir os anseios deste povo guerreiro e estarei a imortalizar a figura de Daviz Simango. Os que choraram a sua morte não foram só do MDM, não foram só da oposição. Mesmo altas figuras da própria FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] sentiram a perda deste grande homem. Então, é preciso saber ser e estar para garantir que possa ser uma figura que responde aos anseios do povo beirense.
DW África: Pretende candidatar-se à liderança do MDM?
AC: Quem decide a candidatura para a liderança do MDM não é o membro por si só, isto cabe ao partido, ele é que pode definir quem está em condições de dirigir. Mas quero tranquilizar-vos, temos vários quadros competentes que poderão dirigir [o MDM].