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Alemanha poderá testar firmeza da política externa em reunião sobre Líbia

30 de agosto de 2011

Falta solidez e “bússola” na política externa alemã, criticou ex-chanceler Helmut Kohl; por postura “resistente” à intervenção militar internacional, ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, balança.

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O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, causou indignação por desconsiderar participação da NATO nos avanços dos rebeldes líbios
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, causou indignação por desconsiderar participação da NATO nos avanços dos rebeldes líbiosFoto: dapd

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, disse nesta terça-feira (30/8) em Berlim que o governo alemão felicita “a vitória dos rebeldes” na Líbia, e que a Alemanha “fará tudo o que puder” para dar assistência humanitária ao povo líbio.

A Alemanha estará entre as cerca de 60 delegações esperadas na quinta-feira (1/9) pelo ministério francês dos Negócios Estrangeiros na conferência internacional de apoio à Líbia para estruturar o país após a queda do governo de Mouammar Kadhafi, há 42 anos no poder. Desde fevereiro deste ano, o país do norte africano se tornou palco de protestos contra o dirigente líbio e de uma insurreição apoiada por intervenção militar aérea operada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Alemanha perde credibilidade

Porém, a participação da Alemanha na reunião do Grupo de amigos da Líbia – proposta pela França para ouvir as demandas dos responsáveis do Conselho Nacional de Transição (CNT) rebelde – poderá ser interpretada como um teste para saber se a política externa da primeira economia europeia ainda é confiável.

Alemanha, Brasil, China, Índia e Rússia se abstiveram da votação da resolução da ONU que autorizou o uso internacional da força na Líbia
Alemanha, Brasil, China, Índia e Rússia se abstiveram da votação da resolução da ONU que autorizou o uso internacional da força na LíbiaFoto: AP

Alguns críticos de renome parecem desconfiar da solidez da atual política externa alemã. Por exemplo, de acordo com o ex-chanceler alemão Helmut Kohl (1982-1998) e ícone da União Democrata Cristã (CDU) – o partido majoritário da coligação alemã de governo –, Berlim não estaria desempenhando uma política externa firme; e teria perdido a “bússola”.

Em março, a Alemanha – assim como Brasil, Índia, China e Rússia – se absteve de votar a resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que autorizou o uso da força para proteger a população civil líbia da repressão de Kadhafi. Em seguida, a Alemanha se recusou a participar de qualquer operação da NATO na Líbia. Foi o único país da União Europeia e membro da Aliança Atlântica a ter agido desta forma.

Pressão sobre o ministro das Relações Exteriores

Na política interna alemã, a discussão sobre a política externa também deixou marcas por causa de declarações do ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, membro do liberal FDP, o partido minoritário da coligação federal de governo. Nesta terça-feira, o chefe do partido, Philip Rösler, decidiu apoiar o ministro – após dias de debates sobre o futuro político de Westerwelle.

Confidentes do ministro das Relações Exteriores da Alemanha também disseram à agência dapd que não se considera uma eventual renúncia de Westerwelle. E a chanceler alemã Angela Merkel afirmou, por meio do porta-voz governamental Steffen Seibert: “A chanceler trabalha com o ministro dos Negócios Estrangeiros de maneira confiável”.

Em maio, Westerwelle já teve de deixar a liderança do FDP – nos últimos dias, a cadeira de ministro das Relações Exteriores da Alemanha também balançou, especialmente por causa de declarações “resistentes” que ele fez sobre a situação na Líbia, dizem observadores.

Mudança de postura: Westerwelle (dir.) disse diante do homólogo francês, Alain Juppé, que a Alemanha respeita "a contribuição dos franceses e dos nossos aliados"
Mudança de postura: Westerwelle (dir.) disse diante do homólogo francês, Alain Juppé, que a Alemanha respeita "a contribuição dos franceses e dos nossos aliados"Foto: dapd

Quando os rebeldes líbios chegaram a Trípoli, desenhando a vitória da insurreição, Westerwelle insistiu que teriam sido especialmente as sanções contra Kadhafi – apoiadas pela Alemanha – que enfraqueceram o dirigente líbio. Nos primeiros momentos, Westerwelle não chegou a creditar a intervenção militar internacional operada pela NATO.

Mas, no domingo (28/8), Westerwelle mudou de posição e explicou em entrevista ao jornal Welt am Sonntag: “Estamos felizes porque os líbios conseguiram derrubar o regime de Kadhafi – também com auxílio da intervenção militar internacional”.

Na segunda-feira (29/8), Westerwelle também mencionou a resolução da ONU, diante do ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, que visita a Alemanha: “Exatamente pelo fato de termos [o governo alemão] considerado as chances [sobre a Líbia] de forma diferente, respeitamos a contribuição dos franceses e de nossos aliados na concretização da resolução 1973”.

Com isso, a cúpula do FDP espera que a indignação pública sobre a postura de Westerwelle acabe logo. Rainer Brüderle, chefe da fração do FDP no Bundestag (Câmara Baixa do parlamento alemão), disse que “Westerwelle reconheceu, como os outros, que a intervenção da NATO foi decisiva para a vitória dos rebeldes. A postura está clara, e não tenho dúvidas de que Westerwelle vai continuar o trabalho dele”.

Oposição: Westerwelle “sem autoridade”

Porém, fora do FDP, a discussão sobre Westerwelle parece continuar – especialmente na oposição. “Temos um ministro das Relações Exteriores com prestígio zero no próprio país”, disse Claudia Roth, presidente do Partido Verde, pedindo a renúncia imediata do chefe da diplomacia alemã. Andrea Nahles, secretária geral do maior partido da oposição, o SPD (social democrata), explicou que “ele [Westerwelle] está liquidado neste cargo. Ele não tem mais autoridade”.

Também o Brasil deverá enviar representante para Paris para participar da reunião do grupo de contato sobre a Líbia. O país sul-americano ainda não reconheceu o Conselho Nacional de Transição da Líbia como representante legítimo do país do norte africano.

Autora: Renate Krieger (com agências dpa/dpad/afp/Reuters) / Nina Werkhäuser (Berlim)
Edição: António Rocha