Expansão do terrorismo e das ambições russas no Sahel
5 de março de 2024O aviso da ministra alemã surge numa altura em que o Burkina Faso está a ser alvo de ataques terroristas. Ainda no passado fim de semana, pelo menos 170 pessoas foram mortas numa série de ataques no norte do país. No mesmo fim de semana, 29 fiéis morreram em ataques separados a uma igreja e a uma mesquita. Até à data, nenhum grupo reivindicou a autoria dos ataques.
Adama Sawadogo, que vive na capital, Ouagadougou, conta: "A situação atual não é fácil. Durante o fim de semana, houve ataques por todo o país e aconteceram ao mesmo tempo. As igrejas foram visadas, bem como as mesquitas. Eles [os terroristas] vieram mostrar-nos que são fortes. Mas, no fim, são apenas fracos".
O Burkina Faso, um país sem litoral com cerca de 23 milhões de habitantes há anos que é atacado por grupos terroristas islâmicos, que se estão a aproximar cada vez mais da capital, Ouagadougou. Kamal Donko, da Universidade de Bayreuth, na Alemanha, diz que a pobreza levou ao descontentamento entre os jovens, forçando-os a procurar soluções alternativas para sobreviver.
"Há pobreza, desemprego e descontentamento nas zonas rurais. Isto está ligado às medidas governamentais e à agricultura, como o cultivo de soja. Isto pode levar a que os jovens se radicalizem", entende.
Primeira visita depois do golpe militar
Svenja Schulze, que visita Burkina Faso e Benin, é a presidente da Aliança do Sahel, fundada pela Alemanha, França e União Europeia (UE) para apoiar os Estados do Sahel. A Alemanha é o quarto maior doador do organismo de desenvolvimento.
Esta é a primeira vista de uma ministra europeia a Burkina Faso desde o golpe militar de setembro de 2022, que instalou Ibrahim Traoré como líder do país.
O Governo militar de transição liderado por Traoré controla apenas cerca de metade do território do país e adiou as eleições inicialmente previstas para este ano por tempo indeterminado. Tal como os seus vizinhos Mali e Níger, que também são governados por forças militares na sequência de golpes de Estado nos últimos anos, o Burkina Faso está a aproximar-se cada vez mais da Rússia.
Os três Estados estão também a afastar-se da antiga potência colonial França, que anteriormente fornecia ajuda militar e apoio antiterrorista. O Mali trabalha cada vez mais com a equipa de mercenários russos Wagner para manter a ordem e combater o terrorismo.