Aliança da oposição em Angola: que futuro?
13 de abril de 2021Será que a frente criada pela oposição angolana terá pernas para andar? Esta questão é quase sempre colocada em vários segmentos da sociedade, embora muitos acreditem que a aliança já esteja a tirar sono ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder.
Na semana passada, Adalberto Costa Júnior, presidente da União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, reiterou levar o projeto avante.
"A UNITA está amplamente empenhada em liderar uma frente unida democrática para materializar a alternância do poder político em 2022 e materializar o sonho adiado de uma Angola inclusiva e participativa com um Governo que assuma o compromisso de uma ampla revisão da constituição através de um diálogo abrangente, com lideranças que devolvam a soberania ao povo com o direito de eleger o presidente da república", afirmou o líder da UNITA.
Chances para 2022
Para além da UNITA, a chamada Frente Unida Democrática é também constituída pelo Bloco Democrático (BD) e o projeto Político PRA-JA.
Será que esta aliança vai colocar o MPLA na oposição em 2022?
"Se, de facto, essa frente unida, gizada pelos líderes Dr. Abel Chivukuvuku, Adalberto Costa Júnior e o Justino Pinto de Andrade, se realizar, e o caminho é mesmo este, nós teremos a maior oportunidade para conseguir encostar o MPLA na oposição", responde à DW África Serafim Simeão, do projeto político de Abel Chivukuvuku.
Para este político, é preciso tentar outras formas de retirar o partido governante do poder: "Tentámos em 1992 isolados e não conseguimos, tentámos em 2008 cada partido, isoladamente, não conseguimos, tentámos em 2012, também não conseguimos, e, em 2017, o exemplo foi o mesmo".
PRS não reconhece aliança
Não fazem parte desta aliança a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), a Aliança Patriótica Nacional (APN) e o Partido de Renovação Social (PRS).
Manuel Ribaia, do PRS, diz que o seu partido não foi convidado a fazer parte desta frente e, por isso, não reconhece a sua existência.
"Eu estou a dizer que seria um convénio, um tratado num fórum próprio entre os partidos políticos a começar pelas lideranças e isso não existe. O PRS não dispõe sequer de qualquer papel que justifique que o partido A ou B escreveu para ver a posição do PRS para ver se aceita aliar-se a esta aliança. Para nós não existe aliança nenhuma. Não existe", diz Ribaia.
No entanto, há já algum tempo que Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade vêm tomando posições conjuntas sobre os problemas do país.
"Oposição de faz de contas"
Para o analista e jornalista Ilídio Manuel, "é natural que esta oposição que diz que agora não se revê nessa oposição radical, se sinta, de certo modo, marginalizada".
"Mas isso tem muito a ver também com as posições pró governamentais que essa oposição vem tomando a favor do partido governante. É natural que essa oposição não esteja a ser vista como aquela que pretende, de facto, mudanças de fundo. Nós temos uma oposição de faz de conta", afirma o analista.
A pouco mais de um ano para as eleições, questiona-se se esta aliança chegará com forças suficientes, em 2022. Ilídio Manuel comenta: "Se chegar viva e se sobreviver a essa série de barreiras, vai, mas numa posição não tanto de tanta força".
A Constituição angolana prevê que seja candidato à Presidência da República o cabeça de lista de um partido ou coligação de partidos. E na aliança da oposição angolana, há três nomes de peso: Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade. Quem deles será?
"Acredito que o próprio Abel Chivukuvuku está plenamente consciente que, neste momento, a UNITA está numa posição de força. Este papel seria reservado justamente a Adalberto Costa Júnior", conclui Ilídio.