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Alice Mabota: "Rejeição de candidatura é política"

2 de agosto de 2019

Em entrevista à DW, Alice Mabota diz que a sua candidatura à Presidência de Moçambique "abalou um bocado o sistema". Por isso, não se admirou com o chumbo do Conselho Constitucional.

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Alice Mabota foi excluída esta semana da corrida presidencial em MoçambiqueFoto: DW/Leonel Matias

O Conselho Constitucional de Moçambique (CC) chumbou esta semana as candidaturas de Maria Alice Mabota, Hélder Mendonça e Eugénio Estêvão da corrida à Presidência da República, a 15 de outubro.

Foram admitidas as candidaturas de Filipe Nyusi, pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Ossufo Momade, pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Daviz Simango, pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e Mário Albino, pelo partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI).

A candidatura da Alice Mabota era a primeira de uma mulher na história do país, com 44 anos de independência e a caminho das sextas eleições gerais. Candidata pela Coligação Aliança Democrática, Mabota viu 5.611 proponentes invalidados do total de 13.160 submetidos, segundo o acórdão do Conselho Constitucional de Moçambique. 

Alice Mabota diz à DW África que se trata de uma rejeição "administrativa e política" e não técnica, porque todas as assinaturas que suportaram a candidatura foram reconhecidas pelos serviços de notariado do país.

Alice Mabota: "Rejeição de candidatura é política"

DW África: O CC chumbou a sua candidatura à Presidência de Moçambique. Como é que reage a esta reprovação?

Alice Mabota (AM): Era expectável que isso acontecesse. A minha candidatura abalou um bocado o sistema, mesmo os partidos da oposição, porque viram que tinha uma candidata forte. Portanto, arranjaram coisas para dizer que não apresentámos os papéis devidamente. De tal sorte que até chegam a agredir a nossa inteligência quando dizem que há assinaturas falsificadas, como se nós fôssemos falsificadores.

DW África: O que correu mal na sua candidatura?

AM: Nada. O que correu mal foi que lhes meti medo. Não é verdade aquilo que dizem ter havido, assinaturas "assadas" e "cozidas". Todas as assinaturas estão "cruas". Não há nenhuma assinatura que não foi reconhecida pelo notário. Eu estou a juntar os dados e vou publicá-los, para mostrar onde até em alguns artigos o próprio CC se enganou. A rejeição é administrativa e política. Não é técnica. 

DW África: Neste caso, houve um julgamento errado da sua candidatura?

AM: Para dizer "julgamento" significaria que foi analisada, mas nem houve julgamento. Até o próprio acórdão já tinha sido decidido. Eu era seguida pela Inteligência. E, na segunda-feira (29.07), a Inteligência desapareceu, porque já tinha o acórdão. Isso era prenúncio, e eu avisei as pessoas que estava admirada que a Inteligência já não me perseguia... E, na quarta-feira (31.07), as candidaturas caíram. Eles nem sequer sabem avaliar as coisas. 

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DW África: Assim que foi chumbada a sua candidatura, qual é o seu próximo passo?

AM: Penso transformar esta rejeição numa força para eu poder fazer ações que permitam que eu esteja forte. Não perdi a guerra, mas sim a batalha. As batalhas várias vezes se perdem, mas as guerras devem-se ganhar.

DW África: O que quer dizer com perder uma batalha e não uma guerra?

AM: Quer dizer que vou continuar a lutar até conseguir o que eu pretendo que o Estado seja, porque eu não me candidatei para ter o cargo como tal. Quero imprimir uma dinâmica de mudanças neste país e vou conseguir.   

DW África: Prevê candidatar-se em 2024?

AM: Porque não? 

DW África: Face à reprovação da sua candidatura, a vossa coligação vai apoiar algum dos candidatos admitidos?

AM: Ainda estamos a discutir isso.

DW África: Em Moçambique, discute-se muito a questão da emancipação e participação política das mulheres. Como é que avalia o que o discurso político apregoa e o que a realidade mostra?

AM: Há muitas falácias. O Estado fala muito, mas não há sanções nem há uma união das mulheres. Neste momento, as mulheres deviam rejeitar e vir a público dizer que nós queremos saber detalhadamente como a nossa candidata foi reprovada. E uma questão de estratégia de um Governo são era: 'se é que ela não tem apoio, deixemos que vá, para saber que não há ninguém que a apoia'. Mas não fazem isso porquê? Porque eles têm consciência de que há apoio, as pessoas querem, mas o sistema não permite.

A minha avaliação é que não estão preparados para serem dirigidos por mulheres. E as mulheres que estão nos partidos são pessoas que obedecem àquilo que lhes dizem. Quando elas compreenderem que a reprovação de uma mulher é a reprovação delas próprias, já terão uma ação.

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