Alice Weidel e AfD: A extrema-direita no Bundestag
24 de setembro de 2017De acordo com os resultados da votação deste domingo (24.09), o partido de extrema-direita AfD garante o terceiro lugar nestas eleições federais, com 13%, e consegue entrar pela primeira vez no Parlamento alemão. Assim, a candidata Alice Weidel terá o seu assento no Bundestag.
Mas quem é Alice Weidel?
A candidata da extrema-direita quer que as pessoas saibam que ela está com raiva. Está brava com os resgates da Alemanha para a Grécia e com a pobreza entre os idosos alemães. Mas acima de tudo, está brava com a política de refugiados do Governo da Alemanha.
"Dos 1,4 milhões de requerentes de asilo neste país, apenas 0,5% são elegíveis para o asilo de acordo com a lei alemã - o que faz você se perguntar, o que está acontecendo neste país, senhoras e senhores!" rugiu a candidata de topo do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, no microfone. "Isto", enfatizou, "é escandaloso".
A mão meio-fechada de Weidel marca o tempo, enquanto ela enumera cada "violação da lei" cometida pelo Governo alemão. Weidel provoca aplausos, repetidas vezes, na pequena audiência reunida na cidade ocidental de Trier, no estado alemão da Renânia-Palatinado.
Paralelamente, vários policiais observam os arredores - diante dos arcos do antigo portão romano da cidade, a Porta Negra - para controlar manifestantes indignados com o evento, que protestam a poucos metros de distância. Entre vaias e palmas, é difícil dizer que lado está mais irritado com os rumos que a Alemanha tomou.
O discurso de Weidel é notável. Em 15 minutos, ela mostra ao público um lado aparentemente reservado apenas aos apoiantes da AfD. A Alemanha, em geral, conhece-a de forma diferente.
"Jovem, inteligente, lésbica"
Nascida em 1979 na cidade de Gütersloh, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, a juventude de Alice Weidel foi marcada pela realização acadêmica.
Ela foi uma das melhores da sua turma na Universidade de Bayreuth, onde recebeu diplomas em ambos, Negócios e Economia. Weidel também passou seis anos na China - cujo sistema de pensões foi o foco de sua tese de doutorado em 2011 - e, segundo notícias, fala mandarim fluentemente.
Weidel entrou para a AfD em 2013, durante sua fundação como um partido cético em relação à União Europeia. Em uma entrevista recente, ela admitiu que sua parceira estava tão "irritada" com seus discursos sobre o que estava errado com a política alemã, que a encorajou a entrar na política e a fazer algo a respeito.
A jovem de 38 anos reside com sua parceira e dois filhos em Biel, na Suíça - um detalhe que levantou questões sobre onde ela paga impostos. Seu segundo lugar de residência fica em seu distrito eleitoral "Bodensee", o Lago de Constança no sudoeste da Alemanha.
Embora suas conquistas acadêmicas – para não mencionar seu trabalho de consultoria na Goldman Sachs e na Allianz - emprestaram credibilidade à AfD, a imprensa alemã a reduziu a um punhado de atributos.
Em sua edição eleitoral, a revista política "Cicero" referiu-se a Weidel como: "Jovem, inteligente, lésbica".
De fato, a maior pergunta nas mentes de muitos críticos, desde o anúncio de sua candidatura em abril, é: Como Weidel, que está criando filhos com outra mulher, representa um partido homofóbico?
A AfD é, afinal, o partido que queria processar o Governo por causa da aprovação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Uma figura pública menos confiante pode se tornar defensiva, mas não Weidel. Durante uma conferência de imprensa em maio, ela ressaltou que a União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel, há muito se opunha ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas lhes permite entrar em uniões civis. "Não há mais nada a dizer sobre o assunto", disse Weidel a repórteres.
AfD, a voz da razão
O equilíbrio de Weidel e seu talento para esquivar os comentários racistas e xenófobos feitos pelos principais políticos da AfD levaram os críticos a acreditar que o papel principal dela é atrair eleitores que de outra forma são repelidos pela retórica que cheira ao passado nazista do país.
"Não tenho utilidade para discriminações nacionalistas", declarou Weidel ao jornal alemão Südwest Presse, em 2016. Nas entrevistas subsequentes, ela descreveu a tendência da AfD para os sentimentos de extrema-direita como problemática e uma distração de discussões importantes.
No início da campanha, Weidel optou por um tom calmo em relação à crise dos refugiados ou os terroristas islâmicos. Fotos do sofrimento dos refugiados "quebraram seu coração", disse ela em um programa televisivo nacional, em 2016 - mas ressaltou que a Alemanha não poderia ajudar a todos. Na mesma entrevista, ela disse que o islão não era parte da Alemanha, porque não haveria qualquer coisa como uma religião do islão.
Em entrevista após entrevista, ela sorri, relaxada e confiante. Nenhum insulto ou acusação que descreve seu partido como populista, racista ou xenófobo a enerva.
Quando um repórter local perguntou-lhe sobre os radicais de direita na AfD, Weidel respondeu tranquilamente: "isso é absurdo".
Mesmo quando defende o seu co-candidato, Alexander Gauland, Weidel responde às perguntas sem dificuldade. O que ela achou de Gauland dizer que a comissária de Integração da Alemanha, Aydan Özoğuz, deveria ser "descartada" para sua pátria-natal turca por dizer que a Alemanha não tinha cultura reconhecível? "É uma questão de gosto", respondeu.
Dando o que a multidão quer
Weidel mostrou um lado diferente no comício da AfD em Trier, na Renânia-Palatinado, no entanto, onde ela foi apresentada como um política que pensa que "a correção política pertence ao acervo do lixo da história".
Suas primeiras palavras foram um ataque a Aydan Özoğuz - um nome que ela pronuncia com exageração simulada. A comissária de Integração é uma "mancha" sobre o Governo alemão e uma "desgraça" para a Alemanha, disse Weidel várias vezes, enquanto lia, em voz alta, citações do comissário de Integração em seu telefone.
Acima de sua cabeça, a AfD projetou um círculo vermelho com o texto "Retomar seu país!" e um círculo azul com o nome do partido, "Alternativa para a Alemanha". A multidão aplaude.
Posteriormente, eleitores indecisos disseram à DW que consideravam Weidel "a mais competente" entre os políticos da AfD, enquanto outros permaneceram incertos sobre sua credibilidade política, dada a sua inexperiência.
Os manifestantes que falaram com a DW, por outro lado, observaram que o estilo de Weidel era menos radical do que o de outros políticos da AfD, mas, em última análise, tão problemático quanto, tendo em vista que apoiou políticas "racistas" e "homofóbicas".
Os números das pesquisas eleitorais já projetavam pelo menos 10% dos votos para a AfD nas eleições e apontavam para a presença da AfD no Bundestag.
Mas enquanto a oratória de Weidel tem sido sua força na campanha e na TV alemã, continua em aberto se a novata na política pode liderar o partido no Parlamento federal.
Com uma experiência política mínima, Alice Weidel deve aprender rapidamente como manter sua base feliz, no final do outono, quando ela e a AfD enfrentam os mesmos obstáculos que os políticos que criticaram nos últimos quatro anos.