Amade Abubacar lembrado no Dia do Jornalista Moçambicano
11 de abril de 2019Questionada pela DW sobre a avaliação que faz do jornalismo em Moçambique, a diretora executiva do Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, Maria Mangueleze, afirmou que se trata de "uma questão difícil", já que, neste momento, há "situações de limitação clara dos jornalistas em cobrir as suas matérias." Maria Mangueleze cita como exemplo o caso do jornalista Amade Abubacar, que ainda se encontra detido em Cabo Delgado.
O Sindicato Nacional dos Jornalistas também defende que Abubacar deve ser posto em liberdade. "Ele foi detido em pleno exercício da sua atividade profissional e, por isso, pedimos que o ponham em liberdade", diz o secretário-geral do Sindicato, Eduardo Constantino.
Para Eduardo Constantino, de uma maneira geral a liberdade de imprensa e de expressão no país está num bom caminho e que os profissionais da área realizam a sua atividade. Contudo, deixou um apelo "a quem de direito" para que "deixe de intimidar os jornalistas, deixe os jornalistas realizar a sua atividade."
Interferências políticas
Vários jornalistas têm-se queixado de alegadas interferências políticas no seu trabalho. A Directora Executiva do Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação considera que a situação é grave e condenável.
"Não devíamos admitir isso. É grave porque o jornalista devia ter a liberdade de produzir e de trazer a informação que o cidadão precisa para se manter atualizado e para saber o que o governante está a fazer", sublinha Maria Mangueleze
Apesar de tudo, a responsável considera que há uma luz ao fundo do túnel: "Há uma coisa que é interessante que é o florescimento de um jornalismo, não de um jornalista cidadão, mas um jornalista independente das empresas."
Bancos de jardim como local de trabalho
Por seu turno, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas não poupa críticas aos profissionais da área. E lamenta que alguns profissionais trabalhem em condições extremamente difíceis. "Há profissionais que utilizam bancos de jardins como locais de trabalho", conta.
Eduardo Constantino denuncia ainda que existem órgãos de informação que violam sistematicamente o código de ética e deontologia, apesar de terem subscrito o documento. "Frequentemente deparamo-nos com situações de falta de contraditírio quando o contraditório é o princípio básico do jornalismo."
Quanto aos desafios do jornalismo moçambicano, Eduardo Constantino apontou como exemplos a aprovação de uma carteira profissional do jornalista e a tomada de medidas contra indivíduos que têm extorquido cidadãos em nome da classe.
Já para a diretora executiva do Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, um dos desafios é o acesso à informação por parte dos jornalistas. "Outro desafio prende-se com a qualidade das matérias publicadas e com aquilo que nós chamamos de literacia mediática (o acesso a informação e a capacidade de leitura crítica dessa informação que é recebida). E temos também agora o crescimento das fake news", lembra ainda Maria Mangueleze.