Angola e Moçambique: Ana Gomes critica Presidente português
17 de outubro de 2020A candidata presidencial Ana Gomes criticou severamente o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, pela sua atuação em matéria de política externa, afirmando que houve "vários momentos" que lhe desagradaram perante casos judiciais de Angola e Moçambique.
Em entrevista à agência Lusa, a antiga dirigente do PS cita, nomeadamente, casos referentes ao processo do ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, bem como do desaparecimento do empresário português Américo Sebastião em Moçambique.
"Houve vários momentos que me desagradaram [na atuação do chefe de Estado], por exemplo quando o Presidente da República, em concerto com o Governo, mobilizou-se para ser produzida uma decisão judicial que facultou o abandono pela justiça portuguesa do julgamento do engenheiro Manuel Vicente, quando ele foi acusado de ter corrompido um procurador português", aponta.
Ana Gomes afirma também não ter gostado de ver o caso do empresário Américo Sebastião "ter sido posto debaixo do tapete", apesar de reconhecer que "houve um acompanhamento intenso e atento" da situação da parte da presidência da República.
"Recusa das autoridades moçambicanas"
"Perante os últimos desenvolvimentos que envolveram ameaças à família desse empresário", a par de uma "persistente recusa das autoridades moçambicanas ao mais alto nível em aceitar a ajuda da Polícia Judiciária para esclarecer o que aconteceu", não é aceitável - diz - que "tenha sido sempre dado o total aval às autoridades de Moçambique responsáveis pela recusa em aceitar ajuda portuguesa para localizar esse nosso empresário".
Segundo a candidata, "o Presidente, nos termos constitucionais, é o garante da unidade do Estado, do regular funcionamento das instituições democráticas, mas também da independência nacional, e esse comportamento não serviu à independência nacional nem o interesse nacional".
Por outro lado, Ana Gomes é também fortemente critica da posição de Portugal relativamente à rede 5G e à eventual concessão à empresa chinesa Huawei.
"A Huawei é uma empresa do Estado controlada pelo Partido Comunista Chinês, aliás, pelo exército chinês, que eu visitei enquanto parlamentar europeia, e que sei que está obrigada a ceder todos os dados que recolhe em todo o mundo ao controlo do Partido Comunista Chinês", declara.
A ex-eurodeputada socialista ressalva, no entanto, que este assunto nada tem a ver com a posição manifestada pelos Estados Unidos e a guerra comercial feito pela administração norte-americana.
"Para mim [a questão da 5G] é essencial para a independência nacional e para a autonomia estratégica da Europa", conclui, afirmando que esta "é uma questão fundamental e muito antes da Europa ter concluído, aliás, à conta da pandemia como ela era realmente fundamental".