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"Football Leaks": Ana Gomes defende Rui Pinto em tribunal

12 de maio de 2021

A antiga eurodeputada socialista depôs esta quarta-feira (12.05) a favor do denunciante português Rui Pinto, o principal arguido no processo "Football Leaks", em que é acusado de 90 crimes.

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O julgamento do caso "Football Leaks" é considerado um dos mais mediáticos em Portugal.Foto: João Carlos/DW

Ao longo de várias semanas, decorrem no Tribunal Central de Instrução Criminal no Campus da Justiça, em Lisboa, as sessões de audiência das mais de 40 testemunhas da defesa de Rui Pinto, entre personalidades do desporto, da política e da vida empresarial. 

O criador do "Football Leaks" que, com as suas denúncias, contribuiu para desvendar o escândalo financeiro "Luanda Leaks", arrolou, entre as testemunhas, a ex-eurodeputada Ana Gomes, chamada a depor esta quarta-feira (12.05) perante o coletivo de juízes dirigido por Margarida Alves. Em declarações à imprensa, a diplomata de carreira defendeu o contributo prestado à justiça pelo "hacker" português - que ela conheceu na prisão em 2019, depois da sua extradição da Hungria para Portugal.

"Na consideração do tribunal, tem que ser levada em conta a extraordinária importância pública dos elementos que ele facultou à justiça do nosso país e à justiça de outros países para lutar contra a corrupção e a criminalidade organizada", frisou a ex-candidata presidencial portuguesa.

Rui Pinto Whistleblower  Budapest Ungarn Hacker
Rui PintoFoto: AFP/F. Isza

Angola despertou o interesse

Ana Gomes explicou ao tribunal em que circunstâncias conheceu o jovem denunciante Rui Pinto, quando no Parlamento Europeu se interessou por vários casos de corrupção, não só em Portugal, nomeadamente as suspeitas que envolveram o negócio de compra da multinacional portuguesa Efacec pela empresária angolana Isabel dos Santos.

A filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, foi mencionada várias vezes por Ana Gomes como a principal visada no escândalo "Luanda Leaks", cujas informações foram igualmente detetadas por Rui Pinto.

Na sessão desta manhã, Ana Gomes, interrogada pelo corpo de juízes e advogados de defesa, criticou nesta linha de crimes o papel da banca portuguesa - entre os quais o EuroBic, que, segundo a ex-eurodeputada, funcionava como lavandaria de Angola. Concordou que as informações que Rui Pinto deu ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação também ajudaram a desvendar os negócios ilícitos que beneficiaram algumas figuras da cleptocracia angolana, entre as quais, como referiu, a empresária Isabel dos Santos. 

Portugal Lissabon | Ehemalige Europaabgeordnete | Ana Gomes
Ana Gomes no Campus de Justiça, esta quarta-feira (12.05).Foto: João Carlos/DW

Interesse público justifica proteção

"Rui Pinto é a fonte assumida do 'Football Leaks' e do 'Luanda Leaks'. Portanto, indubitavelmente que Rui Pinto prestou um extraordinário serviço público a Portugal, à Europa e ao mundo", considera a ex-candidata presidencial.

Porque está em causa o interesse público, Ana Gomes, que não comenta a decisão a tomar pelo tribunal, reafirmou que Rui Pinto é um denunciante que merece proteção ao abrigo das diretivas europeias contra o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.

"Os Estados têm que proteger quaisquer pessoas, de dentro ou de fora de organizações que facultam dados para as autoridades judiciais e policiais irem atrás da criminalidade organizada relacionada com a fuga ao fisco, branqueamento de capitais e a criminalidade subjacente", afirma.

"Devemos estar-lhe muito gratos"

Além do jornalista angolano Rafael Marques, outra testemunha importante neste processo é o ex-candidato presidencial português Paulo de Morais, da Frente Cívica e que responde ao tribunal na sessão da tarde desta quinta-feira (13.05). Em declarações à DW, o fundador da Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC-Portugal) evita entrar em detalhes sobre o que vai dizer aos juízes que julgam este processo.

"Não fugirei a nenhuma, responderei a todas as questões para as quais me sinta capaz de responder. Eu espero, naturalmente, que o tribunal decida com justiça no caso do Rui Pinto, como é óbvio. Mas espero também que não nos esqueçamos que toda a informação que Rui Pinto carreou para 'Luanda Leaks' e para o 'Football Leaks', está a prestar um grande serviço à comunidade. A informação que o Rui Pinto trouxe para a opinião pública é informação muito valiosa e todos devemos estar-lhe muito gratos", sublinha.

Considerado um dos mais mediáticos em Portugal, o julgamento de Rui Pinto começou a 4 de setembro do ano passado, não se sabendo para já quando terminará este processo, que tem o advogado Aníbal Pinto como co-arguido.

Rui Pinto, arguido principal no processo "Football Leaks", responde em tribunal por 90 crimes, 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática a várias entidades - entre elas a SAD do Sporting - e por tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen. 

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