Analista acha que ataque à Eritreia ocorre em momento favorável à Etiópia
16 de março de 2012As autoridades etíopes foram bem claras. Após o ataque à base militar na Eritreia, a 16 quilómetros da fronteira nordeste com a Etiópia, o porta-voz do governo Shimeles Kemal explicou que “as nossas forças de defesa tomaram esta medida contra postos militares, utilizados por forças subversivas e anti-Etiópia que foram apoiadas, financiadas, organizadas e treinadas pelo governo eritreu. Estes postos militares eram utilizados (…) para lançar ataques contra a Etiópia semelhante ao ataque contra turistas europeus.
A ofensiva lançada foi portanto uma retaliação ao ataque ocorrido a 18 de janeiro, no norte da Etiópia, que vitimou cinco turistas europeus. Na altura, dois cidadãos alemães foram ainda sequestrados, e libertados no início deste mês de março, numa operação reivindicada pelo grupo rebelde local Frente Revolucionária Unida Democrática (Arduf). As autoridades etíopes, em Adis Abeba, acusaram contudo o governo eritreu, em Asmara, de estar por trás dos incidentes.
Mas para Emmanuel Kisangani, especialista em assuntos da região do Corno de África do Instituto de Estudos de Segurança em Nairobi, no Quénia, o ataque da Etiópia tem outras razões. Emmanuel Kisangani pensa que essa ação “tem a ver com a atual dinâmica”, pois “a Etiópia goza de boas relações com a comunidade internacional, tem também um exército forte e penso que as autoridades etíopes aproveitaram esta oportunidade para lançar, nesta altura, a sua intervenção na Eritreia”, explica.
Eritreia garante que não responde na mesma moeda
Após a ofensiva etíope, a comunidade internacional pronunciou-se tentando deitar água na fervura naquela região do Corno de África. Estados Unidos, França e Itália apelaram à moderação entre as partes de forma a evitar uma escalada de violência.
Na sequência, autoridades eritreias já garantiram que não vão responder ao ataque. O ministro da informação qualificou como "mentira" as acusações de Addis Abeba segundo as quais a base militar era um campo terrorista. Ali Abdu acusou ainda o regime de Adis Abeba de ter “cometido ações agressivas semelhantes durante os últimos dez anos” contra o seu país.
O ministro da informação da Eritreia disse também que “não se deixarão entrar em guerra com provocações hostis como aquela”.
Do outro lado, Shimeles Kemal, porta-voz do governo da Etiópia, desvalorizou a possibilidade de desencadear um novo conflito, mas mesmo assim advertiu que “enquanto a Eritreia continuar a ser uma zona de lançamento de ataques contra a Etiópia, medidas semelhantes continuarão a ser tomadas” e sublinhou que caso haja uma resposta “os resultados serão desastrosos”.
Kjetil Tronvoll, especialista etíope do Grupo de Política e Direito Internacional, em Nairobi, mostra-se otimista afastando a hipótese de mais violência entre os dois estados vizinhos.
Segundo Kjetil Tronvoll “não se trata de um incidente para entrar em guerra com a Eritreia. Foi um incidente isolado. Não vejo num futuro próximo que a Etiópia possa mobilizar um grande embate. A Etiópia não precisa de entrar em guerra com a Eritreia, porque o regime da Eritreia vai destronar-se internamente” e acrescenta que “o regime do presidente Isaias Afwerki vai implodir, é uma questão de tempo”, opina.
A relação entre a Etiópia e a Eritreia caracteriza-se por um clima de tensão constante. De 1998 a 2000, os dois países da região do Corno de África disputaram fronteiras, numa guerra que fez 70 mil mortos.
Autora: Glória Sousa (com agência AFP)
Edição: Renate Krieger