Analistas duvidam que existam “grandes mudanças” na Guiné-Bissau após as eleições
24 de fevereiro de 2012“As crises sistemáticas na Guiné-Bissau são de origem estrutural e as soluções devem ser estruturalmente profundas”, sustenta o historiador guineense Julião Soares de Sousa. Este analista não antevê “grandes mudanças” no país com as próximas eleições presidenciais e legislativas, “uma vez que o país tem estado suspenso em torno de questões fundamentais, como por exemplo, os assassinatos [do ex-Presidente “Nino” Vieira e do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas Tagmé Na Waié] que estão por resolver.
Na perspectiva de Julião Soares de Sousa “a instabilidade não deve ser imputada unicamente à classe castrense”, mas tem a ver com “erros coletivos cometidos desde a independência”.
Outra voz pouco optimista quanto às eleições é a do constitucionalista Carlos Vamain que considera que “o país está bastante debilitado e as instituições não funcionam. Há muita promiscuidade entre os políticos e os militares. A crise estrutural mina o aparelho do Estado, abrangendo o setor da justiça”. Daí a impunidade e assassinatos ainda por esclarecer, argumentam o historiador e o jurista guineenses.
Diáspora guineense continua sem direito a votar
Também preocupado com a instabilidade o advogado, Ernesto Dabó, acredita que a origem das crises na Guiné-Bissau é essencialmente de ordem cultural e critica o facto da diáspora guineense, “pouco reivindicativa”, continuar a não ter direito de voto nas presidenciais. “É um problema que dura até hoje desde que o país entrou no processo eleitoral democrático. Mas, porquê tanta passividade [da diáspora] face a uma questão que os está a prejudicar e os ofende na sua dignidade”, questiona.
Ernesto Dabó critica ainda a não realização até ao momento de eleições para os orgãos do poder local e defende “um forte investimento no capital humano, apostando na educação dos guineenses”.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha