ANC sem condições de continuar ideiais de Nelson Mandela, dizem analistas
14 de dezembro de 2012A crise no seio do partido no poder na África do Sul agudiza-se. Alguns consideram que o Presidente Jacob Zuma administrou mal as greves que abalaram o setor mineiro nos últimos meses e que agora passaram a afetar a indústria dos vinhos e de frutas, que traz muitas divisas para o país.
No interior do ANC, porém, a simpatia por Zuma está a diminuir. Os seus opositores usam a sigla ABZ, abreviação de Anything But Zuma, ou Tudo Menos Zuma.
Não são só os pesos pesados do ANC como Tokyo Sexwale que querem a substituição de Zuma, mas também outros membros do partido.
Até Desmond Tutu, ex-arcebispo e titular do Prémio Nobel da Paz, diz estar a rezar pela queda do ANC e do governo de Zuma.
Esses críticos acusam o Presidente sul-africano de não fazer o suficiente para resolver os problemas urgentes do país, como os da economia sul-africana, fortemente abalada nos últimos meses, além de um desemprego e de uma corrupção chamados de epidêmicos.
Interesses pessoais acima dos interesses nacionais
Rhoda Kadalie, defensora dos direitos das mulheres e antiga ativista contra o Apartheid – antigo regime segregacionista sul-africano, liderado pela minoria branca – é uma das colunistas mais críticas da África do Sul.
Na sua opinião os governantes têm o país como refém enquanto brincam de gato e rato. Rhoda Kadalie acusa-os mesmo de só se importarem com o acesso aos recursos naturais, não com a governação e diz: "Em vez de dar mais poder económico aos negros, como era o objetivo após o Apartheid, eles só pensam em enriquecer rápidamente."
A defensora dos direitos humanos considera que o ANC não tem a mínima condição de manter o curso da África do Sul definido por Nelson Mandela.
Rhoda Kadalie vaticina: "Se o vice-Presidente Montlante ou o Presidente Jacob Zuma forem eleitos à frente do ANC – nenhum dos dois vai fazer o suficiente pelo país".
Crises políticas afetam economia e sociedade
Os observadores veem com preocupação como as divergências políticas e a violência de forças do governo contra grevistas nas minas sul-africanas, nos últimos meses, prejudicam a economia sul-africana.
Gareth Newham, do Instituto para Estudos de Segurança, ISS, em Pretoria, África do Sul, conta: "Por causa da incerteza política, duas agências de notação de risco baixaram a nota de crédito da África do Sul. Entre outros problemas, o nosso setor mineiro atraiu muito menos investimentos do que o previsto."
Para o analista tal se deve ao facto do foco do Governo de Zuma e dos seus ministros ser o combate político interno e também a defesa de interesses privados. Gareth Newham conclui: "Eles não se interessam pela liderança política para resolver os problemas do país."
Com efeito, os dirigentes políticos sul-africanos parecem não ter soluções para os problemas urgentes: a propriedade de terra e das minas do país, o estabelecimento de uma indústria competitiva, o aumento da produtividade do país e dos padrões educacionais.
Futuro incerto
A diferença entre ricos e pobres também aumenta: dois terços dos 50 milhões de habitantes do país vivem com menos de um dólar por dia.
Entre os especialistas internacionais, a pergunta é: que direção económica a África do Sul vai seguir daqui em diante?
Muitos desses especialistas acreditam, por outro lado, que Jacob Zuma deverá sair vencedor do Congresso do ANC e que ele poderá ser, portanto, o nome do partido para as eleições de 2014, nas quais ele poderá também vencer um segundo mandato de cinco anos à frente do país. Porém, o partido deverá continuar dividido.
Autor: Ludger SchadomskyRenate Krieger
Edição: Nádia Issufo/António Rocha