Angola é o novo alvo de fabricantes de armas brasileiros
21 de fevereiro de 2013
A visita a Angola do ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, semanas após o país receber os três primeiros aviões militares da Embraer, empresa brasileira de aeronáutica, de um lote de seis unidades, reafirma novos os interesses estratégicos da indústria de armas e do governo brasileiro.
Se África é o alvo prioritário, Angola é considerada a porta de entrada no continente por causa da agenda geopolítica brasileira, inaugurada ainda no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas principalmente pelos recursos advindos dos petróleo.
Angola cada vez mais exigente
Esses dois pontos são vistos pela Associação Brasileira da Indústria de Material de Defesa (ABIMDE), como fundamentais para que as forças armadas angolanas adquiram equipamentos de maior valor para suprir suas exigências.
O diretor-técnico da ABIMDE, Armando Lemos, explica: “É que Angola está a montar uma estrutura e está a ser bastante exigente nas suas aquisições”. Segundo Lemos, as exigências de Luanda comparam-se “a critérios de primeiro mundo mesmo”.
Tal foi o caso da negociação da compra de aviões de guerra, os Super Tucanos da Embraer, ao custo de quase 12,4 milhões de euros cada um.
Mas o que deixa animado o diretor da ABIMDE e coronel da reserva do Exército é que o país africano mostra-se disposto a diversificar as suas compras. Segundo Lemos “Angola está interessa em aquisição de produtos brasileiros”.
Armando Lemos, que já trabalhou em Angola integrado nas tropas de paz das Nações Unidas depois da guerra civil, conhece também a realidade do continente africano, onde o armamento brasileiro é empregado em vários países como Mauritânia, África do Sul, Gana, Nigéria e Argélia, entre outros.
África de conflitos é um bom mercado
Para uma realidade considerada modesta da indústria brasileira de material de defesa, o mercado da África como um todo é visto como importante por causa de uma demanda pouco sofisticada.
Como boa parte das 170 empresas brasileiras atuam em segmentos mais simples, as chances de novos negócios são bastante viáveis, confirma o diretor da associação dos fabricantes.
Mas é na explosiva realidade africana, envolvida rotineiramente em guerras civis e étnicas, que o mercado de armamento deposita as suas esperanças.
O tema naturalmente é tratado com muito cuidado por Armando Lemos, pois a África é “uma colcha de retalhos e ali há muitos conflitos”, considera ele.
O governo brasileiro proíbe a divulgação dos números de exportações, mas a ABMIDE calcula em 1,2 mil milhões de euros, com pretensão de chegar a 5,3 mil milhões de euros em 2030, graças aos programas de incentivo do governo.
Nos anos de 1980, o Brasil chegou estar entre os quatro maiores exportadores mundiais, entre armas de emprego militar e armas leves.
Entre essas últimas, a Forjas Taurus é considerada uma das maiores do mundo e a quarta maior fornecedora ao mercado norte-americano.
A empresa confirma que abastece várias países africanos, como Angola por exemplo.
Alemanha também tem negócios com Angola
Em julho de 2011 a chanceler alemã Angela Merkel visitou Luanda e nessa altura a Alemanha vendeu ao governo angolano cerca de oito navios de patrulhamento da empresa Lürssen, e cada um deles está avaliado entre dez e 25 milhões de euros.
Segundo a chanceler federal, a venda fazia parte de um acordo mais amplo de cooperação internacional, que envolvia também o treinamento de soldados.
Segundo ela, o objetivo seria a capacitação de militares africanos, para que, no futuro, pudessem assumir mais missões da ONU no continente.
O negócios originou críticas na Alemanha, mas Angela Merkel justificou que os navios têm por finalidade a proteção das fronteiras de Angola, "o que é normal", considerou.
Durante a visita à capital angolana, Merkel afirmou ainda que a "Alemanha está pronta para uma parceria em energia e matéria-prima". Ela disse que a Alemanha pode ajudar o país africano a utilizar cada vez mais energias renováveis, e não apenas gás e petróleo.
Autor: Giovanni Lorenzon (São Paulo)
Edição: Nádia Issufo / Renate Krieger