Angola: 500 mil empregos até 2021?
26 de abril de 2019Em Angola, duvida-se que, com o Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade (PAPE), o Governo de João Lourenço consiga cumprir a promessa eleitoral de garantir 500 mil empregos para os angolanos, apesar de disponibilizar o equivalente a 58 milhões de euros para o combate ao desemprego.
Em declarações à DW África, o jornalista angolano Jorge Neto afirma que o principal obstáculo ao cumprimento da promessa é a corrupção que ainda grassa no país.
"Fala-se em luta contra a corrupção, mas são os mesmos corruptos que estão colocados nos mesmos postos, e isso não vai mudar agora. Portanto, eu não acredito que até 2021 se consiga criar estes postos de trabalho", comenta Neto.
Decreto para combater o desemprego
O Presidente angolano aprovou, na semana passada, por decreto, o PAPE para combater a taxa de desemprego no país, estimada em quase 29%. Os 58 milhões de euros previstos no plano provirão do Orçamento Geral do Estado e do Fundo Petrolífero, devendo beneficiar sobretudo os jovens ou quem procura o primeiro emprego.
Jorge Neto, diretor do Jornal Manchete, alerta que é "preciso ter-se muita atenção para que esse dinheiro também não vá parar a sítios onde sabemos que já foi parar muito dinheiro".
"O valor disponibilizado é, de facto, relevante. Agora, a eficiência, a eficácia dos projetos, a seriedade desta empreitada é que poderá colocar em causa a eficiência. Não é o problema da crise", acrescenta.
Angola é assolada por uma crise económica e financeira desde finais de 2014 como consequência da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Mas o jornalista diz que isso já não é desculpa, pois, os próprios empresários adaptam-se.
"É de louvar"
Para o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, 58 milhões de euros para o emprego dos jovens é uma ótima notícia.
Em dezembro do ano passado, Teixeira foi para as ruas de Luanda protestar contra a demora na criação dos 500 mil postos de trabalho prometidos por João Lourenço. Mas agora aplaude a iniciativa do Presidente: "É uma medida de louvar por parte da Presidência da República. Mostra que é um Presidente sério, porque na época eleitoral ele prometeu e está agora a tentar cumprir", diz o líder do MEA.
No entanto, o dirigente associativo pede a inclusão de instituições juvenis na fiscalização da implementação destes projetos e não apenas o Instituto Nacional do Emprego e de Formação Profissional (INEFOP), como prevê o decreto presidencial.
"Há necessidade de se criar um gabinete técnico de jovens para supervisionar o processo. Porque os processos são entregues a determinadas instituições do Estado, mas sem o acompanhamento direto das instituições juvenis", adverte.
Evitar partidarização
Isso evitará também a partidarização do projeto, refere ainda Teixeira - para que não seja preciso ter cartão do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), para beneficiar do dinheiro.
"Temos assistido noutros projetos a uma atitude menos boa dos membros da juventude do MPLA. São eles que definem os projetos, quem vai e quem não vai, e depois vão pedir cartão de militante. Estamos numa outra república, estamos numa sociedade diferente - há quem diga que estamos num país novo. Há necessidade de a cidadania superar as questões partidárias", sublinha o líder do MEA.
Durante a campanha eleitoral, o Presidente João Lourenço não prometeu apenas a criação de 500 mil postos de trabalho. Prometeu também combater a corrupção e a impunidade, apoiar o empresariado nacional e melhorar as condições de vida da população.
O jornalista Jorge Neto lembra o chefe de Estado que o seu "período de graça" já terminou e é hora de pôr a "mão na massa".
"Quero acreditar que a disponibilidade deste plano de ação e promoção de empregabilidade que o Presidente da República acabou de criar através do Decreto 113/19, de 16 de abril, vem exatamente dar indicativos de que já não há tempo para mais, ou seja, 'fiz promessas eleitorais, tenho agora que cumprir'."
Desemprego aumentou 8,8 %
O desemprego em Angola aumentou 8,8% e atinge mais as famílias que vivem nos grandes centros urbanos, noticiou esta sexta-feira (26.04) o jornal angolano Expansão, que cita um relatório do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o Inquérito de Despesas, Receitas e Emprego em Angola (IDREA), divulgado na semana passada.
Segundo o documento do INE, por cada 100 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, 52 estavam no desemprego em 2018 - ao todo, 2,1 milhões de pessoas.
Ainda de acordo com o INE, entre março de 2018 e fevereiro de 2019, 60% dos jovens com idades entre os 18 e 19 anos estavam desempregados, sendo esta faixa etátria a mais afetada pelo desemprego em Angola.