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Angola avisa que não vai ceder a "ingerências" estrangeiras

Nelson Sul D'Angola (Benguela) / Lusa15 de outubro de 2015

Coube ao vice-presidente substituir o Presidente José Eduardo dos Santos na leitura do discurso à nação. A prisão dos ativistas não mereceu destaque, mas ficaram as críticas a quem procura "atalhos para chegar ao poder".

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Manuel Domingos Vicente, vice-presidente de AngolaFoto: Getty Images

Ao discursar perante o Parlamento, em nome de José Eduardo dos Santos, o vice-presidente da República, Manuel Domingos Vicente começou por fazer uma incursão da luta de libertação nacional e do conflito armado terminado em 2002.

Por outro lado, numa referência indireta ao caso dos jovens ativistas detidos sob a alegação de tentativa de golpe de Estado, afirmou que será combatida energicamente qualquer tentativa de resolver os problemas políticos pela via da violência e das armas. "Não vale a pena procurarmos atalhos para chegar ao poder político, violando a Constituição e a lei, e provocando a desordem, como está a ocorrer em alguns países africanos", disse Manuel Vicente.

José Eduardo dos Santos Angola Präsident
Presidente José Eduardo dos SantosFoto: Reuters

O número dois do Governo disse que politicamente o país observa um momento estável e que as autoridades governamentais têm respeitado e fazem respeitar as leis. "As entidades competentes estão vigilantes e tem tomado as previdências necessárias para se evitarem ou repararem todos os atos que significam abusos do poder e violação dos direitos humanos", frisou.

Angola "não permite" interferências

No discurso que marca o arranque do novo ano parlamentar, a comunidade internacional volta a ser alertada que Angola não irá permitir qualquer ingerência externa nos assuntos do país. O chefe de Estado aponta para a existência de "entidades estrangeiras interessadas em instalar o caos e a desordem em alguns países do continente, para provocar a queda de partidos políticos ou de dirigentes com os quais não se simpatiza".

Ölproduktion in Angola
Angola enfrenta uma crise financeira devido à forte quebra da cotação do petróleo no mercado internacionalFoto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

"Os angolanos nunca vão ceder diante de quem quer que seja, sempre que se tratar da defesa dos seus interesses essenciais e vitais. Assim, é fundamental que o nosso povo se mantenha unido e coeso", disse Manuel Vicente, ao ler o discurso de José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.

Relativamente à atual crise financeira que o país enfrenta devido à forte quebra da cotação do petróleo no mercado internacional, o que provocou também uma crise cambial devido à redução da entrada de divisas no país, Manuel Vicente recomendou contenção de custos. "Todas as economias têm ciclos altos e baixos. A boa notícia é que não haverá recessão mas apenas uma ligeira desaceleração do crescimento da economia sendo essa uma boa base de trabalho para o próximo ano".

Na atual conjuntura, acrescentou o vice-presidente, temos de fazer mais e melhor e com menos. Isso significa que temos de alterar modelos e práticas de mobilização e utilização de recursos. Na verdade, o Estado, as empresas, as famílias e a sociedade civil, todos temos de eliminar o desperdício e o supérfluo. Todos temos de trabalhar mais e melhor".

UNITA critica discurso "vazio"

Reagundo ao discurso sobre o estado da nação, Raúl Danda, o presidente da bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição angolana, considerou o discurso "vazio" e aquém das expectativas. E acrescentou que o Presidente da República fez muito bem em não ter comparecido no Parlamento.

Raul Danda
Lider parlamentar da UNITA, Raúl DandaFoto: DW

"Ir ao Parlamento pessoalmente para fazer uma mensagem daquelas era complicado. Há situações graves de violação dos direitos humanos que fazem com que a imagem do nosso país seja gravemente afetada tanto internamente como exteriormente", disse Danda à DW África.

O líder da bancada parlamentar da UNITA disse ainda ser um paradoxo afirmar que o país vive em estabilidade política, quando recorrentemente são violados os direitos humanos e o país vive constantemente sob o fantasma de um golpe de Estado. É preciso deixar de "utilizar o argumento de bode expiatório", defende Danda. "Há sempre alguém culpado dos problemas que não se resolvem no nosso país. Agora até apontam o dedo acusador para a comunidade internacional".

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Quanto à contenção dos gastos públicos para contornar a atual situação económica e financeira, Raúl Danda afirma que José Eduardo dos Santos devia começar pelo "emagrecimento do Governo" e acabar com gastos supérfluos como, por exemplo, a compra de uma aeronave no valor de mais de 62 milhões de dólares.

"Nós podemos ter dois ministros, um da Economia e outro das Finanças? Um só ministro pode ocupar-se dessas duas pastas. Podíamos ter um ministro que se ocupasse do comércio; da hotelaria e do turismo para emagrecer o governo e poupar nas despesas", sugere.

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