Angola e Guiné-Bissau na rota da droga brasileira
1 de dezembro de 2011O último levantamento do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime mostra que a saída de substâncias ilícitas da América Latina aumentou nos últimos anos, passando de 25 toneladas, em 2005, a 260 toneladas, no ano de 2009.
No caso do Brasil, o país faz fronteira com três nações produtoras de cocaína: Peru, Colômbia e Bolívia. O delegado João Geraldo de Almeida, que é chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal tem uma explicação para o aumento: “Este tipo de droga é do interesse dos traficantes europeus”. E para colocar essas drogas na Europa, acrescenta o delegado, os traficantes usam “todas as formas e todos os meios”.
A África é placa giratória
É aqui que entra em jogo o continente africano, cuja posição geográfica, diz ainda o responsável, vem ao encontro dos desígnios dos traficantes: “Eles usam o continente como um entreposto para armazenar essa droga até uma futura remessa”.
Um estudo publicado na revista Américas Quartely confirma que grande parte da cocaína que vem da América Latina, escoada pelo Brasil, tem como destino a África. O especialista em segurança pública, Genilson Zeferino, detalha o mercado internacional de drogas, começando a explicar pela demanda brasileira: “Nós temos a presença da maconha produzida no Brasil, produzida em vário rincões e que abastece o mercado local. Mas tem também as drogas internacionais, principalmente a cocaína e o seu sub-produto, o crack”.
Angola e Guiné-Bissau no centro do tráfico da droga
Ainda de acordo com a pesquisa, o comércio com o continente africano chegou a 17 bilhões e 200 milhões de dólares, no ano de 2009, quando o Brasil se tornou o principal ponto de partida da cocaína enviada para África. O delegado da Polícia Federal cita Angola e Guiné-Bissau, para além da Nigéria e do Senegal, como parte das placas giratórias da droga, destacando o papel de passageiros africanos que fazem o transporte da droga.
O documento publicado na revista Américas Quartely explica ainda que as ligações históricas entre o Brasil e os países lusófonos da África oferecem novas oportunidades aos traficantes que, segundo o criminólogo, Genilson Zeferino, que também é professor em gestão de sistema prisional, muitas vezes, envolvem jovens, tanto por aqui, como no continente africano: “No caso de África, sem uma política que dê à juventude condições de estudo, de trabalho, o tráfico de drogas aparece como possibilidade para ganhar dinheiro. No caso da África e do Brasil é muito comum o caso de jovens que são envolvidos como “mulas”. O que não quer dizer necessariamente que eles são viciados”.
Brasil reforça as medidas de combate ao narcotráfico
Apesar dessa situação, o delegado da Polícia Federal explica que o Brasil tem feito a sua parte para tentar diminuir o tráfico de cocaína para África. Por exemplo foi intensificado o controlo de portos e aeroportos, e aumentado o número de agentes especialmente treinados para a deteção de estupefacientes. Também o reforço da cooperação internacional está na agenda para combater este crime.
Autora: Camila Campos (Belo Horizonte)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha