Angola: Encerramento de fronteiras divide opiniões
29 de novembro de 2021Para alguns, não há qualquer dúvida: encerrar as fronteiras à África do Sul e outros países da SADC por causa da nova variante do coronavírus foi uma decisão precipitada. José Gama, jornalista angolano radicado em Joanesburgo, lembra que a África do Sul "estava ainda numa fase embrionária em termos de pesquisas e o mundo praticamente acabou de penalizar o país com as restrições em termos de viagens".
Segundo o jornalista, Angola podia ter esgotado todos os esforços diplomáticos antes de anunciar o encerramento das suas fronteiras, até porque Luanda, afirma, tem ligações ao professor brasileiro que liderou as investigações da descoberta da nova variante.
"Angola tem aqui, na África do Sul, quadros do Ministério da Saúde a trabalhar com esse professor brasileiro. Portanto, Angola tinha todos os meios diplomáticos, canais científicos, canais académicos para consultar a África do Sul e poder obter informações concretas quanto a essa nova variante", sublinha.
A posição tomada por Angola entra apenas em vigor na quarta-feira, 1 de dezembro, mas o repatriamento de angolanos nalguns destes países começa já esta terça-feira (30.11), com três voos da TAAG, Linhas Aéreas Angolanas.
Medida "acertada" pela "posição geográfica"
A especialista angolana em relações internacionais Emília Pinto considera uma "medida acertada" o encerramento de fronteiras por parte do Estado angolano, "sobretudo pela posição geográfica de Angola em relação aos Estados onde essa nova variante se desenvolveu"
"Há uma população angolana que é residente no território nacional, mas presta serviço ou trabalha na República da Namíbia", lembra.
No entanto, muitos africanos não vêem com bons olhos a forma como o mundo está a reagir. Os escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, por exemplo, falam em "duas pandemias". Num artigo públicado no Facebook, os autores moçambicano e angolano escreveram que "não se fecham fronteiras, fecham-se pessoas. Fecham-se economias, sociedades e caminhos para o progresso".
Entretanto, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, fala em discriminação do seu país. Mas Emília Pinto justifica a posição ocidental: "Pode ser entendido, sim, como uma forma de discriminação ou marginalização destes paises. Mas nós também não podemos deixar de colocar na balança aquilo que a Covid-19 representou para o ocidente. A Europa foi o continente mais afetado com a propagação do vírus".