Escolas cada vez mais partidarizadas em Angola?
1 de abril de 2022Na província angolana do Bengo, professores denunciam a partidarização de instituições escolares.
Tudo começou quando o gestor do Liceu 379 alegadamente afirmou que, se dependesse de si, "até a funcionária da limpeza" teria de ser do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) - partido no poder em Angola.
A denúncia foi feita pela então porta-voz e professora da instituição, Sílvia Cololo que, em entrevista à DW, afirma que, desde aí, as relações entre as partes azedaram.
A DW procurou, sem sucesso, ouvir o gestor escolar. Mas, numa entrevista recente à Rádio Eclésia, o diretor da instituição, Samora Neves, negou as acusações.
"O cidadão licenciado faz as coisas de consciência própria e eu tenho consciência disso. Eu não posso levar intenções político-partidárias para a escola. É verdade que eu tenho o meu partido, mas sei muito bem os espaços onde agir como político. Na escola, o que devemos fazer é ambientalizar, e é isso que temos feito", garantiu.
Despedimento
A professora Sílvia Cololo diz estar a ser perseguida pelo gestor escolar e que foi exonerada e afastada da escola sem aviso prévio. "Não fui informada da minha devolução, apercebi-me pelas redes sociais. Tanto que se tiver alguma razão plausível ou legal, só mesmo a pessoa que me devolveu poderá justificar, eu penso que pode ser também uma questão de arrogância ou emoção, ou uma questão pessoal", conta.
O sindicato de professores, através do seu secretário provincial, lamenta a situação e fala em irregularidades.
César António afirma que "houve muitos atropelos da lei com relação à devolução da professora, que tomou conhecimento através das redes sociais. Em condições normais, a escola deveria notificá-la".
Também o diretor do gabinete provincial da Educação do Bengo, Manuel Fernando, diz ter-se apercebido da situação nas redes sociais. "Ao nível da administração do Estado, como devem calcular, há mecanismos a seguir e vamos a partir de hoje compreender primeiro o que é que houve e, depois, eventualmente, faremos o pronunciamento público".
O sucedido mereceu já a reação do secretário nacional do sindicato de professores, Admar Jinguma, que fala num "ato de arrogância".
"Nós chamamos aqui o gabinete da educação para não dar respaldo a esta medida porque, se não, estaremos a criar um precedente muito grande", alerta.