Angola: População vinga-se dos sobas pela falta de chuva
8 de novembro de 2021Superstições e crenças ditam a perceção de grande parte da população mundial em relação aos fenómenos atmosféricos. O assunto voltou à ribalta, no Huambo, em Angola, por causa dos prejuízos causados pela seca nas últimas duas campanhas agrícolas - 2019/2020 e 2020/201 - que arrasaram toda a produção.
A falta de alimento trouxe fortes consequências sociais e económicas para a comunidade, que se vê amiúde com casos de fome e desnutrição severa.
O fenómeno da escassez de chuva é justificado pela ciência como sendo resultante das alterações climáticas. Mas nas comunidades rurais, o fenómeno foi sempre visto como uma ação perpetrada pelas autoridades tradicionais para reforçar o seu nível de influência junto das comunidades.
Há mesmo relatos de sobas que ameaçam travar a chuva caso a comunidade não cumpra determinada exigência, por exemplo.
Rasto de destruição
Há duas semanas, no município do Ucuma, na província do Huambo, a população revoltou-se contra o poder tradicional e partiu para atos de vandalismo contra instituições governamentais, bem como contra residências de sobas, causando danos materiais e humanos.
“A origem disto está mesmo no rei da Chiaca, que reclamou que se o Governo não lhe desse um carro também não teríamos chuva”, disse à DW o soba Ucuma Florentino.
“No mês de outubro não caiu chuva e, na mente das comunidades, aquele rei, que se intitulou como protagonista da chuva, está a travar a chuva”, acrescentou.
As autoridades governamentais da província estão preocupadas com os atos de vandalismo contra as autoridades tradicionais perpetrados pelas populações.
“Não se justifica este alvoroço por ausência da chuva, porque todos nós sabemos que a chuva é uma questão natural e já tivemos várias secas, várias estiagens e não é só no Huambo. Há outras províncias [afetadas]”, diz Loti Nolika, governadora da província, que se deslocou ao município do Ucuma para se inteirar do sucedido.
Chuva é um fenómeno natural
Amilcar Salumbo, engenheiro agrónomo com doutoramento na área da climatologia, confirma a posição do Governo. “É um processo com uma abordagem a vários níveis”, garante.
“Nós vemos em alguns casos em que a comunidade, eventualmente, intervém na manifestação de descontentamento em relação á falta de chuva, eventualmente, por uma má abordagem do problema, porque a chuva não é um fenómeno de controlo humano”, concluiu o especialista.