Kwanza Norte: Grávidas sem acesso a ecografia e hemoterapia
27 de novembro de 2019A situação deve-se a falta de recursos humanos no Hospital Materno Infantil do Kwanza Norte, segundo avançou à DW África, o próprio diretor clínico da instituição, Fidel João Hebo.
"Serviços inoperantes. Temos apenas um serviço em funcionamento, porque temos falta de recursos humanos, sobretudo especialistas em imagemologia, um médico para responder então a sala de ecografia", explicou Hebo, que garante que o hospital já está a fazer contactos para resolver o problema ainda este ano.
A situação está a inquietar as pacientes que diariamente procuram esses serviços médicos num hospital construído especificamente para consultas e tratamentos médicos de mulheres e crianças dos zero aos cinco anos de idade.
Situação das gestantes
Maria Francisco teve bebé há cerca de um mês e considera crítica a situação. Ela lamenta ainda as dificuldades que as gestantes enfrentam, porque têm sido obrigadas pelos médicos a fazer as ecografias fora dos hospitais públicos, onde o exame é gratuito. Nas clínicas privadas o exame custa cerca de dois mil Kwanza, o equivalente a quatro euros - o que sai caro para a maioria das pacientes.
"Antes, tínhamos um doutor que fazia exames de ecografia no hospital materno infantil, mas neste momento não temos médico para fazer ecografia", relata Maria Francisco que apela: "a direção [do hospital] tem de arranjar um médico para fazer ecografia, porque os dois mil Kwanza que nós gastamos para ir fazer o exame [lá fora] é muito caro para nós. Há mamãs que não têm mesmo esses dois mil Kwanza, mas o hospital exige a ecografia. Aonde elas vão tirar?"
Isilda Pedro está grávida de seis meses. Ela sabe da importância da ecografia e queixa-se do mesmo problema: o alto preço do exame. E por isso solicita a resolução urgente da falta de profissionais "para o bem das mães".
"Pode ser que o bebé precise mesmo de uma ecografia, para saber das condições do bebé dentro da barriga da mãe”, diz a grávida, que indigna-se: "caso seja preciso este exame, aconselham sempre a ir a um posto médico ou à uma clínica, onde o exame custa dois mil Kwanza, por isso, que lutem logo para resolver este problema".
Hemoterapia também enfrenta problemas
Entretanto, um outro serviço que também enfrenta dificuldades é o de hemoterapia. O diretor clínico Fidel João Hebo, contou à DW África o quão difícil tem sido o dia-a-dia naquele setor do hospital.
Segundo Hebo, a direção encontra-se "amarrada" em relação à hemoterapia. "Sempre costumo a dizer que o sangue não se compra na praça, sangue só se encontra no corpo humano, e sempre pedimos à sociedade civil no sentido de ocorrer ao nosso hospital a fim de responder às campanhas de doação de sangue, mas nem sempre os cidadãos vêm", explica.
Ainda de acordo com o diretor clínico do Hospital Materno Infantil do Kwanza Norte, a demanda de pacientes que precisam de sangue às vezes é maior do que as doações. "Sobretudo na área de pediatria, em que temos tido mais ou menos quinze internamentos a cada 24 horas, e destes [pacientes] se calhar quatro, cinco, seis, sete precisam de sangue, mesmo que tivéssemos um estoque, na verdade também estaria esgotado", revela Fidel João Hebo, que apela aos cidadãos para doarem sangue.