Angola: João Lourenço nunca sentiu contestação da juventude
29 de junho de 2022Em entrevista à RTP África, o chefe do governo angolano fez um balanço positivo do seu mandato, apesar de "dois anos quase mortos" devido à pandemia de covid-19, apontando o "bom ambiente de negócios", a luta contra a corrupção que "também está a correr bem" e a diversificação da economia como alguns dos pontos altos
Admitiu que "Angola não é um paraíso", tendo sofrido as consequências da pandemia e da crise económico-financeira mundial, e mais recentemente da guerra na Ucrânia, mas salientou aspetos positivos como a descida dos preços dos produtos da cesta básica, bem como o incremento de salários na função pública, garantindo que houve também recuperação de emprego graças à maior intervenção do setor privado, que tem vindo a conquistar terreno
Afirmou, por outro lado, que não conhece "contestação juvenil" em Angola, onde nunca se assistiu também a um movimento de coletes amarelos.
"O que temos vindo a assistir é a mobilização de um pequeno grupo de jovens, por um partido da oposição, que os leva a comete atos de vandalismos, e que não são representativos da juventude angolana", salientou João Lourenço.
"Não me parece que haja contestação da juventude angolana", reforçou o Presidente angolano, que também não vê "desilusão" entre esta camada social, realçando os investimentos feitos "a favor do povo angolano" e que foram para além das promessas que fez quando se candidatou pela primeira vez à presidência.
Prometeu, num segundo mandato (João Lourenço recandidata-se ao cargo nas próximas eleições gerais marcadas para 24 de agosto) continuar com grandes projetos, nomeadamente a melhoria da rede rodoviária nacional, luta contra a seca, eletrificação do país, um novo aeroporto para Luanda, o porto de águas profundas do Caio e a barragem hidroelétrica de Caculo Cabaça.
Seguindo o tema das eleições, assumiu que não há vitórias fáceis, mas afirmou que está a trabalhar "arduamente" para não entregar o poder a oposição e que não fica em Luanda à espera de milagres, saindo todos os fins de semana para as outras províncias
Um ritmo que terá até levado o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa a dizer para "não se cansar tanto" porque "não precisa", confidenciou, prometendo acelerar ainda mais na fase da campanha eleitoral "para garantir que não há surpresas".
Mostrando-se otimista quanto a um segundo mandato e ao futuro de Angola, país em que a comunidade internacional "hoje tem mais confiança", rematou: "só vejo bons dias para Angola".
Relação com José Eduardo dos Santos é "boa"
O Presidente angolano, João Lourenço, disse terça-feira que a relação com o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que está em coma induzido, é "boa" e que a justiça angolana não está a atuar contra a família dos Santos, mas sim contra a corrupção.
"É boa, durante este tempo tivemos vários encontros e quase sempre, quem se deslocou ao encontro com José Eduardo dos Santos fui eu. Eu é que sou o chefe de Estado e fui eu que me desloquei, isso é um sinal mais do que evidente de que as relações são boas", afirmou João Lourenço.
"(Mas) uma coisa são as minhas relações entre ele e eu, outra coisa é a luta contra a corrupção, que não é contra pessoas, não é contra famílias, é contra quem estiver envolvido nesses casos, aí a justiça angolana andará atras dessas pessoas ou famílias", complementou.
Desde que subiu ao poder, em 2017, substituindo no cargo José Eduardo dos Santos que, durante 38 anos governou os destinos de Angola, João Lourenço elegeu a luta contra a principal bandeira, tendo surgido desde essa altura diversos processos judiciais contra familiares do ex-presidente ou seus antigos colaboradores, que alguns dizem tratar-se de uma justiça seletiva.
João Lourenço garantiu, na entrevista, que a justiça angolana está a agir a todos os níveis: "não esta só à caça de ministros e ex-ministros, diretores e ex-diretores, a luta contra a corrupção está a cobrir todos os níveis da base até ao topo e quem está a fazer isso são os tribunais".
Sobre o processo de recuperação de ativos e repatriamento de capitais a partir do exterior, admitiu que os números estão ainda longe do que seria ideal e que "é quase impossível recuperar a 100%" o que foi desviado do erário público, mas, sublinhou, vai "continuar a trabalhar nesses sentido".
Negou que o sistema judiciário esteja em falência, salientando que fez. em quatro ou cinco anos. o que o país não fez em mais de quarenta anos de independência: "Nunca houve tanta liberdade dada ao sistema judicial para fazer justiça".
Sobre a utilização de meios postos à disposição da presidência da Republica para fazer campanha enquanto presidente do MPLA, que se candidata a um segundo mandato nas eleições gerais de 24 de agosto, rebateu as criticas, invocando exemplos de outras democracias, como os Estados Unidos, onde esta prática é habitual.
"Eu sou Presidente da República, utilizo viaturas, utilizo um avião que me leva a todo o sitio, acha que quando saio em atividade partidária devia deixar de usar esses carros, esses jipes, o avião? Eu acho que não, e não tenho de esconder essa forma de pensar", respondeu João Lourenço à jornalista da RTP que questionou o chefe de Estado sobre a utilização de meios na sua dupla qualidade de líder do governo e líder partidário. João Lourenço apontou ainda o exemplo dos Estados Unidos, país onde o Presidente usa o Air Force One (avião presidencial) durante a campanha eleitoral.