Legado de JES divide opiniões em Cabinda
16 de julho de 2022Muitos cabindenses entendem que durante o seu reinado de 38 anos, José Eduardo do Santos (JES), também carinhosamente tratado por Zedu, não conseguiu encontrar caminhos de negociação sobre a situação de Cabinda, com o movimento separatista - a Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).
Para alguns, José Eduardo do Santos, foi um político forte que sempre soube valorizar a comunicação.
Emmanuel Nzita, líder da FLEC exilado na Suíca, disse que os 38 anos que Zedu esteve no poder, era tempo suficiente e sublime para encontrar solução sobre a questão de Cabinda, "mas não o fez, porque não quis”.
No entanto, diz Nzita que "neste momento apesar da direção da FLEC FAC ainda não ter oficialmente reagido, devemos render tributo e estar em sintonia com o sentimento da família."
Questionado se era mais fácil negociar com José Eduardo dos Santos, ou com o atual Presidente angolano, João Lourenço, o líder da FLEC respondeu no seguinte:
”Todos são farinha do mesmo saco”, justificando que "eu sou vítima da perseguição e fui capturado pelo governo do MPLA, em 1998 em Kinshassa, onde fiquei muito tempo a dormir no chão como animal”, lembrou o político.
Emmanuel Nzita considera que tanto José Eduardo dos Santos, assim como, João Lourenço "são filhos do mesmo sistema e nada muda. Mas devemos considerar que o Zedu era mais sereno nas suas convicções e ponderado”.
Preservação da paz em Cabinda
Em 2012, José Eduardo dos Santos visitou a província de Cabinda, enquanto chefe de estado, onde tinha uma agenda político-partidária. Naquela altura, tinha dito à população local no seu discurso, que continuaria a preservar a paz alcançada em Cabinda, com assinatura do Memorando de Entendimento para a Paz, liderada por António Bento Bembe.
Entretanto, o seu discurso sobre a pacificação da província foi alvo de críticas nos círculos radicais do enclave.
Na altura, Raúl Tati, era vigário geral da Diocese de Cabinda, e considerou tais pronunciamentos infundados: ”Esperava que JES dissesse que soluções definitivas têm sobre a situação da pacificação do enclave. Mas não o fez."
"Vilão" para uns e pai para outros
Apesar disso, consternação e pesar público são sentimentos que marcam as populações da cidade de Cabinda. Entre canções que ilustram a situação social porque passam e saudades daquele que governou o país durante 38 anos.
Nas ruas de Cabinda, algumas zungueiras descrevem a morte de JES com alguma nostalgia e lembram o seu legado.
”Sinto muito a morte dele é como se fosse o meu pai biológico”, disse uma zungeira (vendedeira de rua) ouvida pela DW, acrescentando que "me lembro que naquela altura quando era presidente, nós vivíamos melhor. Agora, as coisas estão mais caras”, concluiu.
Uma outra zungueira disse à DW África que "ele era mesmo um pai. Apesar de algumas menos boas, mas ele sempre nos habitou a preços acessíveis, agora, estamos a padecer", lamentou.
Construtor de Paz
O general Zenga Mambo, Presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo, considera José Euardo dos Santos, um verdadeiro construtor da Paz.
”O ex-Presidente, deve ser considerado um histórico nacional. Ele foi um construtor de Paz, e um verdadeiro mediador que fez tudo para se concretizar um Memorando de Entendimento para a pacificação da Paz em Cabinda em 2006. E nestas circunstâncias, não queríamos estar indiferentes a esse momento triste”, disse Mambo.
As homenagens a figura do antigo chefe decorrem defronte a Paróquia Rainha do Mundo, onde políticos, religiosos, sociedade civil entre outros, se dirigiram para assinar o livro de condolências e render homenagem, à figura do José Eduardo dos Santos, durante os sete dias de luto nacional decretado Pelo Presidente João Lourenço, que terminou nesta sexta-feira (16.07).
Contudo, o funeral de José Eduardo dos Santos, que morreu a 8 de julho, aos 79 anos, após semanas de internamento em Barcelona, ainda não tem data e local marcados.