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Lundas prometem manifestação contra condições de saúde

Richard Furst
23 de dezembro de 2017

População diz que os dois hospitais da região estão sem condições de atendimento. Desde setembro, dezenas de crianças já morreram. O Governo classifica o caso como epidemia de malária, mas organizações locais discordam.

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Ministério da Saúde entregou recentemente ambulâncias à Administração do Cuango, na Lunda NorteFoto: DW/V. T.

Os moradores da região das Lundas, no leste de Angola, estão assustados com a quantidade de crianças que têm morrido desde setembro. O Governo angolano classifica a situação como epidemia de malária, facto que as autoridades e organizações locais discordam devido aos sintomas.

De acordo com os líderes locais, pelo menos oito crianças estão a morrer por dia apenas na localidade de Cafunfo, no município de Cuango, na província da Lunda Norte. A localidade conta com cerca de 70 mil habitantes.

Os moradores decidiram realizar uma manifestação na véspera do Natal (24.12) para protestar contra a precária situação que têm enfrentado nos últimos tempos: os dois hospitais da região estão sem condições de atendimento devido à falta de higiéne e carência de medicamentos.

Surto de morte de crianças com febre assusta Angola

Até os três cemitérios da cidade estão cheios de pequenas valas prontas a receber um elevado número de vítimas diariamente, principalmente crianças. Para Enoque Jeremias, diretor da Associaçao para Promoção de Desenvolvimento Social, o número de menores com idades de 0 a 14 anos que não resistiu aos sintomas de febre alta impressiona até quem trabalha há anos na região.

"Houve um tempo em que estavam a morrer entre oito e 15 crianças por dia, assim, invariavelmente. Um dia morria cinco, em outro dia oito ou 15, sucessivamente. Essa situação se repetia, no dia-a-dia até que ficou difícil calcular quantas mortes, ninguém consegue definir o número exato de crianças que já morreram", detalha Enoque Jeremias.

Governo face à situação

População e grupos de apoio social mostram-se impotentes face ao fenómeno. A ministra da Saúde de Angola, Sílvia Lutucuta, esteve no local recentemente para a entrega de 17 ambulâncias à Administração do Cuango, facto que, para os moradores, não ajudou muito devido a condição precária das estradas.

Angola Rohstoffe
Angola enfrenta sérios problemas devido à falta de saneamento básico e água canalizada (Foto de Arquivo/2012)Foto: DW/Renate Krieger

"As ambulâncias estão aqui, mas não sabemos o que fazer, porque os carros não podem ir a longas distâncias, as estradas não suportam", sublinha Jeremias.

No periodo de uma semana de investigação, as autoridades de saúde angolanas reconheceram oito mortes na localidade que é tida como endémica em períodos como este. Para Enoque Jeremias, a situação melhorou um pouco no início do corrente mês de  dezembro, mas ainda parece longe uma resposta adequada para as crianças que ainda necessitam de tratamento.

O Governo atribui parte da gravidade da situação à forma como as famílias lidam com crenças religiosas para a cura da doença, uma posição que, segundo o  deputado da UNITA, Joaquim Nafoia, não faz grande sentido.

Angola Flüchtlingslager nahe Kakanda
Refugiados e imigrantes congoleses estão entre as vítimas nas Lundas, em Angola (Foto de Arquivo/2017)Foto: DW/N. Sul d'Angola

"Este surto foi provocado por neglicência, porque está a chover, a população está a consumir água imprópria, já que não existe aqui nesta região sistema de água canalizada. A população consome água dos três rios que aqui passam e são circundados pelas usinas, há muito lixo acumulado por todos os cantos, incluindo nos rios", pontua o deputado.

 "E a gente pode ver que há aterros sanitários nas nascentes destes rios. O lixo escorre para baixo do solo e a população vai acarretar lá a água para o consumo", descreve Nafoia, quem completa que o Hospital Regional de Cafunfo (o principal da região) não tem corrente elétrica, nem água potável e as casas de banho estão entupidas.

Situação degradante de todas as formas

O resultado  da investigação epidemiológica, promovida a este propósito, refere tratar-se de malária associada a anemia severa, por falta de saneamento do meio e constantes chuvas.

O  inquérito  sustenta  que situações de género aconteceram em períodos homólogos dos anos anteriores. Cuango e Cafunfo são importantes zonas angolanas de exploração mineira. Por isso, entre as vítimas, para além de crianças  angolanas, também estrangeiras, filhas de refugiados e imigrantes da República Democrática do Congo.

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