Eleições em Angola: Oposição denuncia falta de verbas
6 de julho de 2017Já na contagem decrescente para o arranque da campanha eleitoral em Angola, os partidos da oposição voltam a chamar a atenção para as dificuldades que têm encontrado no levantamento das verbas atribuídas pelo Estado para suportar as suas campanhas.
O maior partido da oposição angolana, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na voz da sua administradora eleitoral, Navita Ngolo, afirmou que o banco público comercial BPC - encarregue de disponibilizar a verba para a campanha - tem mostrado falta de liquidez para satisfazer as solicitações dos clientes. Uma situação que coloca em causa a campaha eleitoral do partido fundado por Jonas Savimbi. Lembrando que faltam apenas 47 dias para as eleições, Navita Ngolo afirma que "não há como os partidos da oposição, a UNITA, sobretudo, conseguir usar os recursos disponibilizados da melhor forma”. Ainda assim, lembra: "estamos a fazer diligência junto do BPC e vamos esperar os próximos momentos para que possamos ter acesso a esses fundos".
Concorrência desleal?
Embora reconheça que o BPC esteja em fase de reestruturação financeira e, por isso, enfrenta sérios problemas de liquidez para atender a procura, Navita Ngolo não deixa de questionar se, de facto, haverá outras razões por detrás desta dificuldade na obtenção de financiamento.
Para esta responsável, "o Estado angolano ou deve assumir que faliu, tanto política como financeiramente, ou então tem que desbloquear [o dinheiro] sob pena de nós entendermos isso como um empecilho para uma concorrência leal na campanha eleitoral”.
A administradora eleitoral da UNITA acrescenta que "deve haver facilitação para a liberalização das verbas para o exterior para aqueles bancos que estão a prestar serviços aos partidos políticos da oposição, sobretudo, mas tudo o que estamos a ver é que, com os saques desmedidos dos dinheiros e com os roubos que fomos acompanhando, os bancos estão rotos e o sistema financeiro está falido”.
As dificuldades no acesso ao financiamento são partilhadas pelos restantes partidos da oposição. Em entrevista à DW África, também o secretário-geral do Partido de Renovação Social (PRS), Rui Malopa, confirmou que o seu partido tem encontrado um mar de dificuldades no que a este tema diz respeito. Malopa fala também em falta de justiça e transparência nestas eleições, uma vez que "o MPLA tem tudo e os restantes partidos não têm quase nada”. Rui Malopa volta a acusar o partido no poder de estar em situação vantajosa. "Verifica-se a olho nu que o partido na situação [MPLA] tem a máquina pronta e afinada faz tempo, porque tem recursos que vai buscar não sei onde, incluindo os meios do Estado”, afirma o político do PRS, acrescentando que o partido dirigido por José Eduardo dos Santos tem tudo "a seu favor em detrimento das outras formações políticas que têm, de facto, dificuldades para poderem realizar as atividades que são inerentes ao processo eleitoral", afirma.
A DW África tentou contactar o diretor de campanha da Convergência Ampla de Salvação de Angola, Coligação Eleitoral, (CASA-CE), o almirante Mendes de Carvalho, mas sem sucesso. Já o secretário para informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Mário António, afirmou não estar autorizado a falar sobre a campanha eleitoral do seu partido. Por enquanto, segundo disse o próprio, o candidato à presidência da República é o o diretor da campanha.
RM
CNE pede exceção
A porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Júlia Ferreira, já fez saber que o órgão eleitoral vai aferir junto das instituições financeiras se é possível, para este caso, que se alterem alguns critérios determinados pelo banco central angolano, para facilitar as operações bancárias dos partidos e coligação concorrentes. "Há algumas instituições bancárias onde esses valores foram domiciliados, que têm regras internas muito próprias, não são aleatórias, estas políticas de gestão interna dos bancos decorrem de avisos aprovados pelo BNA, que têm critérios que devem ser observados indistintamente para todos clientes, em relação à movimentação das contas bancárias", observou, em declarações aos jornalistas, Júlia Ferreira.
Acrescentou que "tratando-se de um financiamento, que visa fins eleitorais e tendo em conta o período que medeia não só a campanha, mas também a data das eleições gerais", a CNE vai questionar a possibilidade de "um pequeno desvio daquilo que são as normas aprovadas".