População angolana critica oferta de geradores a São Tomé
13 de dezembro de 2018Luanda, a maior cidade de Angola, regista cortes constantes de energia elétrica, apesar de, nos últimos tempos, ter havido melhorias em algumas zonas da capital. No entanto, no bairro Palanca, por exemplo, registam-se, frequentemente, falhas de eletricidade. Em declarações à DW África, um residente local lamenta a situação: "Já falámos bastante e estamos cansados. A única coisa que tenho a dizer é que tem que se resolver este assunto porque não sabemos o que fazer. Não sei onde que isto vai chegar", diz.
À noite, a situação é mais preocupante. Muitas famílias socorrem-se de geradores como fonte alternativa para ver as lâmpadas acesas e conservar os frescos, sobretudo nesta época da quadra festiva.
No entanto, e apesar desta realidade em alguns bairros da capital, o Governo angolano vai oferecer geradores a S. Tomé e Príncipe para resolver a crise de luz elétrica que o arquipélago atravessa.
Osvaldo Abreu, ministro das Obras Públicas, Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente de São Tomé recusou avançar aos jornalistas uma data exata da chegada dos novos geradores, vindos de Angola, ao país. Sabe-se, no entanto, que no início desta semana uma equipa de especialistas angolanos chegou à capital são-tomense e iniciou trabalhos de recuperação de geradores avariados. "Os técnicos angolanos que estão no país fizeram uma radiografia do que há e agora o passo seguinte é sentarem-se com os nossos técnicos nacionais e estudar com mais profundidade aquilo que constituem dificuldades de equipamento, materiais e instalações para depois enviar unidades novas", explicou este governante.
Angola "às escuras"
Em Angola, o envio de geradores para São Tomé está a causar indignação, especialmente nas redes sociais, um dos maiores espaços de exercício de liberdade de expressão no país. Os cidadãos têm criticado esta intenção do governo.
Também Agostinho Sikatu, politólogo, se junta à onda de críticas, relembrando que as estradas nacionais e as casas dos cidadãos estão às "escuras". "O governo está a fazer uma política de charme para mostrar ao público externo que está interessado em resolver os problemas de outrem. O país anda às escuras, quem anda pelas estradas nacionais, ou mesmo dentro das cidades, vê que não há iluminação pública nas estradas. Não há iluminação nas residências de muitos os cidadãos", constata.
Para Sicatu, o Governo deve preocupar-se primeiro em resolver os problemas internos para se evitar a onda de contestação como a que se regista no Facebook.
"Não está em causa de energia a um outro país, mas um Governo que se preze deve necessariamente resolver primeiro os seus problemas. Então, como é que vai resolver o problema do vizinho se a sua casa estiver com o mesmo problema? Penso que a solução seria essa: resolver primeiro o problema interno, só assim deveria se resolver o problema de São Tomé", conclui.