Angola: Subida dos combustíveis "trará grandes pressões"
2 de junho de 2023Os preços dos combustíveis aumentaram a partir da meia-noite desta sexta-feira (02.06) em Angola. Este aumento anunciado pelo Governo – na ordem dos cerca de 80%, no caso da gasolina – deve-se principalmente às pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para que o Governo angolano baixe os subsídios aos combustíveis.
Em entrevista à DW, o economista angolano Nataniel Fernandes considera que a medida adotada pelo Governo é "acertada". No entanto, "a maneira como estamos a fazer e que não é a mais acertada".
Isto porque, para Fernandes, "o Governo deveria fazer era uma retirada mais paulatina do subsídio dos combustíveis, de maneira a que os agentes económicos se habituassem melhor à ideia da subida dos combustíveis".
Em 2022, Angola gastou 1,9 mil miliões de kwanzas (3,5 mil milhões de euros) em subsídios aos combustíveis - 60% acima do que ano anterior, segundo o relatório anual do Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE).
Nataniel Fernandes, que é também membro do Governo Sombra da UNITA, onde ocupa a pasta da Economia, aponta que a subida dos preços vão trazer "grandes pressões inflacionárias".
Porém, o economista acredita que os recursos antes utilizados para subsidiar os combustíveis "podem ser melhor usados em outros investimentos, como a educação, a saúde, os transportes, as infraestruturas e o apoio à produção".
DW África: Concorda com esta medida de se deixar de subvencionar o combustível em Angola?
Nataniel Fernandes (NF): É verdade que o combustível vai deixar de ser subvencionado e eu penso que é uma boa ideia a retirada do subsídio dos combustíveis.
DW África: E isso porquê?
NF: Os recursos podem ser melhor usados em outros investimentos, como a educação, a saúde, os transportes, as infraestruturas e o apoio à produção. Então, a retirada do subsídio de combustível é uma boa ideia.
DW África: Mas esses aumentos também comportam alguns riscos para os mais vulneráveis, concorda?
NF: O que não é bom para mim é a maneira abrupta, a maneira como o Governo está a fazer neste momento esta retirada do subsídio dos combustíveis.
DW África: Estamos a falar de aumentos de preços consideráveis. Pode explicar para quem não vive em Angola?
NF: O combustível que vai sofrer alteração será só a gasolina. O gasóleo não sofrerá nenhuma mudança. A gasolina vai sair de 165 kwanzas por litro para 300 kwanzas, uma subida à volta de 80% e uma subida abrupta. Eu penso que o Governo deveria fazer era uma retirada mais paulatina do subsídio dos combustíveis, de maneira a que os agentes económicos se habituassem melhor à ideia da subida dos combustíveis.
DW África: Na sua ótica, que impacto terá esta medida do Governo para a economia de Angola?
NF: Acredito que trará grandes pressões inflacionárias. Vai ter um impacto grande no bolso e nas despesas dos angolanos e que deveria estar mitigado com outras medidas, medidas de apoio social mais direto às famílias mais vulneráveis, apoio aos produtos alimentares mais básicos da família, uma substituição do dinheiro alocado ao combustível, passar a um apoio a produtos alimentares mais básicos socialmente, porque as famílias mais vulneráveis e que vão sofrer mais com essa pressão inflacionária.
DW África: Consta que alguns setores da economia vão ficar de fora desses aumentos. E quais são esses setores da economia? Os taxistas?
NF: Sim, os taxistas foram certificados e vão receber um cartão de combustível para que fiquem fora desta subida dos combustíveis. Mas eu penso que ainda assim isso não vai mitigar aquilo que deveria ser o impacto da subida dos combustíveis em termos de inflação e de custos de vida dos angolanos.
DW África: Angola não é o único país com este tipo de problemas. Na Nigéria, por exemplo, o novo Presidente apelou às pessoas para não açambarcarem em combustível, porque aí também vai aumentar consideravelmente o preço. São precisamente dois países os dois maiores produtores. Isso é uma coincidência?
NF: O Banco Mundial e o FMI já vêm pressionando Angola para esta retirada do subsídio dos combustíveis. Eu penso que é uma medida acertada, a maneira como estamos a fazer e que não é a mais acertada.