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Angola tem mais de 300 mil mototaxistas ilegais

Lusa | mjp
23 de julho de 2017

Atividade ainda é ilegal, mas os mototáxis sustentam centenas de famílias no país. Associação dos Motoqueiros e Transportadores pede "regulamento oficial".

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Motorradtaxis in Luanda, Angola
Foto: DW/M. Luamba

Mais de 300 mil angolanos exercem atualmente a atividade de mototáxi, revelou o presidente da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (Amotrang), criticando o que afirma ser uma situação em que "ninguém proíbe" por falta de regulamento. 

"A atividade de mototáxi ainda é ilegal, mas temos que ter em consideração que é uma atividade aberta, muito importante e que precisa que quem governe a regularize, para a tornar menos perigosa. É isso que nós pedimos", disse Bento Rafael, em entrevista à Agência Lusa.

Com mais de 10 anos de atividade, a Amotrang, com sede na capital angolana, conta com um total de 382.614 associados a nível de Angola, com a província do Huambo com o maior número de associados, mais de 45 mil, seguida da de Luanda, com cerca de 33 mil filiados.

Regular e educar

Os mototaxistas, ou 'kupapatas', como também são conhecidos, circulam pelas estradas angolanas transportando diariamente milhares de pessoas, sem qualquer licença para o efeito, devido, acusa Bento Rafael, à falta de legislação que regularize a atividade, que é também "fonte de sustento para muitos jovens e adultos sem emprego".

"Se é uma atividade que existe e que é útil para sociedade, por ser o garante de emprego de muitos jovens e adultos sem qualquer profissão, então, onde está a dificuldade de podermos fazer sair um regulamento oficial, uma lei para orientar a atividade?”, questiona.

Apesar dos apelos à legalização da situação dos mototaxistas, o presidente da Amotrang revela que muitos destes são "ainda analfabetos", pelo que a associação promove ciclos de formação sobre códigos e sinais de trânsito, até mesmo em línguas locais.

Angola Verkehrsstau in Luanda
Trânsito em LuandaFoto: DW/Nelson Sul d'Angola

"Sobretudo nas províncias centro e sul do país, onde, com esta fórmula, felizmente, conseguimos afastá-los dos acidentes", adiantou.

Do universo dos mototaxistas controlados pela associação, "grande parte são ex-militares" e jovens desempregados. De acordo com o presidente da Amotrang, o trabalho de acompanhamento, cadastramento e orientação que a associação desenvolve tem sido reconhecido pelas autoridades, questionando, por isso, a falta de respostas à legalização.

"Porque estamos numa situação onde ninguém regula, mas também ninguém proíbe e aqui não sei se seria bom a proibição da atividade de mototáxi no país, porque ela não é só muito útil dos fazedores, mas também para os usuários", assume Bento Rafael.

Aumentar a segurança

A "corrida" de mototáxi, sobretudo nas localidades nos arredores de Luanda, custa a partir de 100 kwanzas (50 cêntimos de euro), um preço variável em função da distância e que é "negociado previamente" com o passageiro.

"Nós temos como base 100 kwanzas por corrida, sobretudo nas localidades, mas isso depende muito por onde o passageiro quer chegar. Daí que em função da distância, o preço é negociável", esclareceu.

Bento Rafael disse ainda que muitos dos mototaxistas que trabalham no centro da cidade de Luanda estão já filiados na associação, prometendo desde já que serão adotados novos mecanismos de identificação dos seus filiados na via pública, "por questão de segurança".

"Começamos a fazer a entrega de coletes, como é caso do município de Viana, de forma experimental, juntamente com o número do seu cadastro para a própria segurança do motoqueiro e do passageiro. Estamos também a timbrar o número de cadastro nas motos", realçou.

O dirigente afirma que todos os dias mais angolanos entram para a atividade, "sobretudo aqueles que caem no desemprego devido à crise", pelo que a preocupação da associação é reduzir o número de acidentes.

Angola Luanda Kwanza
"O preço inicial são 500 kwanzas e varia em função da distância, podendo chegar mesmo a 3.000 kwanzas", segundo David Sebastião. Foto: DW/V. T.

"Temos registado ainda alguns sinistros. Neste momento, com a nossa intervenção e da polícia, na sensibilização dos condutores, o índice tem estado a baixar", garante.

O dirigente recordou ainda a utilidade do mototáxi no país, "por chegarem em localidades de difícil acesso para viaturas", para apelar à legalização.

Sem licença para trabalhar

Do centro para outros pontos da cidade, os 'kupapatas' garantem rapidez para chegar a qualquer local de Luanda, dependendo apenas do bolso do cliente/passageiro, um serviço onde a boa disposição, aparência e a "documentação em dia" concorrem para atrair mais passageiros.

"É um trabalho bom, estamos a contribuir para o bem da sociedade, sobretudo na ajuda matinal dos funcionários, quando o trânsito nas ruas está intenso", explicou à Lusa o mototaxista David Sebastião. Com 33 anos, explica que trabalha por conta própria após conseguir comprar a sua motorizada com as poupanças de vários meses.

David Sebastião revela que faz preços simbólicos a clientes com menos posses e por vezes até se tornam "fixos", satisfeitos com o serviço prestado. "O nosso bom comportamento, capacete, o bom visual e a documentação em dia, eles solicitam os nossos terminais telefónicos e para qualquer situação eles telefonam e vamos ao encontro deles", explica.

Sem licença para o exercício da atividade, David Sebastião tem noção da documentação "indispensável" para a circulação da motorizada em Luanda, garantindo ter muitos clientes. Hoje garante que não vive sem a motorizada que garante sustento da família.

Edinho Semedo, de 24 anos, também é mototaxista em Luanda. Garante que a mota está legalizada, mas continua a exercer a atividade sem licença, admitindo que já são vezes sem contas as "complicações" com a polícia. "O nosso serviço não é legal, para o Governo Provincial, porque não estamos autorizados a fazer mototáxi. Mas apenas trabalhamos porque precisamos de facto do pouco que sai daqui, porque não temos emprego", referiu.