Angola: Regresso da Emirates a TAAG e depois privatização?
8 de fevereiro de 2019Um relatório às contas da companhia aérea nacional de Angola indica que ela está em falência técnica pelo terceiro ano consecutivo, revela o jornal Expansão. Apesar de tudo, de 2016 a 2017 a TAAG, Transportes Aéreos de Angola, terá conseguido reduzir os prejuízos para a metade, altura em que estava a ser gerida pela internacional Emirates. E o relatório da auditora Ernst & Young, de março de 2018, alerta para dificuldades de sobrevivência da TAAG. A recapitalização é apontada como solução pelos gestores da companhia. A DW África entrevistou o economista Francisco Paulo sobre a situação.
DW África: O jornal Expansão cita um relatório às contas da TAAG, que revela que a companhia aérea está em situação de falência técnica pelo terceiro ano consecutivo e por isso precisa de um aumento de capital. Estando Angola ainda em situação de crise financeira e económica, o Estado, que é o único acionista, estaria em condições de investir na empresa?
Francisco Paulo (FP): A TAAG é uma empresa que pode ser lucrativa e tem um mercado. É possível, com uma boa gestão, terminar esse círculo de resultados negativos e fazer com que a empresa apresente resultados positivos ao ter mais receitas do que custos. O relatório a que o Jornal Expansão faz referência, de facto, durante três anos consecutivos a TAAG apresentou resultados líquidos negativos. E como em qualquer outra empresa, quando, de facto, a empresa não está a conseguir gerar resultados positivos, isso tem resultados no capital próprio. Essa série de resultados líquidos negativos faz com que o capital próprio da empresa seja negativo e para [resolver] isso é preciso uma recapitalização.
DW África: E qual seria a solução para a companhia: uma parceria externa, a semelhança do que aconteceu já com a Emirates ou a entrada de um novo acionista na estrutura da TAAG?
FP: Note que nos meses em que a Emirates esteve a fazer a gestão da TAAG a empresa conseguiu diminuir os resultados negativos. Acho que em 2016 a TAAG apresentou resultados negativos de 15,1 mil milhões de kwanzas, já em 2017 o resultado diminuiu para 7,7 mil milhões. Possivelmente se a Emirates não tivesse abandonado a TAAG até 2018 ou 2019, a empresa já poderia ter apresentado resultados positivos, o que seria o ideal. Então, é importante, de facto, rever este contrato para ver em que termos a Emirates pode regressar e fazer com que a empresa apresente resultados positivos novamente. Somente assim daria jeito privatizar, porque privatizar uma empresa com resultados negativos o Estado estaria a arriscar vender uma empresa potencialmente negativa a preço baixo porque apresenta resultados negativos. Então, acho que é importante melhorar os indicadores financeiros e económicos da empresa, depois poder alienar parte das ações e finalmente convidar o setor privado.
DW África: Em novembro de 2018 falou-se da possibilidade da entrada da Emirates como acionista com cerca de 35%. Entretanto não se confirmou nada até agora. Mas tomando em conta a gestão da TAAG pela Emirates, a sua entrada como acionista seria vantajosa para a companhia de bandeira angolana?
FP: Muita vantagem, iria melhorar a eficiência. A nível mundial a Emirates é uma companhia de aviação muito eficiente, quase tem rotas para toda a parte do mundo. Dubai conseguiu tornar-se um hub das interconexões de voos internacionais porque a Emirates é eficiente. E tendo a Emirates ações na TAAG claro que iria geri-la com bom gosto, não vai querer ver o seu capital mal aplicado, portanto, seria uma das alternativas.
DW África: Acredita-se que a TAAG tenha um excesso de mão de obra. Para uma empresa que está a apresentar maus resultados esta é uma das situações a ser rapidamente sanada?
FP: Sim, acho que o próprio Presidente da República [João Lourenço] e o próprio ministro dos Transportes quando assumiram os cargos reconheceram isso, que a TAAG tem de resolver o problema dos trabalhadores. Há muita gente que na verdade não faz quase nada, então, é melhor ver como esses trabalhadores podem ser melhor utilizados, isso é um facto. Agora, cabe a empresa e o Estado analisarem isso, a melhor forma de lidar com esses trabalhadores.